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Da Redação
Publicado em 18 de agosto de 2009 às 08:47
- Atualizado há 2 anos
Ele tinha 3 anos quando começou a Guerra de Canudos, vivenciou as duas maiores guerras mundiais e assistiu à morte do astro pop Michael Jackson. Foi com a trajetória marcada por três séculos distintos e muitos momentos históricos vividos que se despediu nessa segunda-feira um dos homens mais velhos do Brasil. >
Seu Anísio acompanhou muitas fases do seu time do coração>
Anísio Rodrigues Alves, 116 anos, torcedor de coração do Esporte Clube Bahia, não só viu seu time ser fundado em 1931, como já era idoso quando o tricolor foi campeão da Taça Brasil, em 1959. “Meu pai era o torcedor mais velho do Bahia”, diz Abílio Ferreira Rodrigues, 64 anos, filho do primeiro casamento de Anísio. >
O contador de histórias e “causos”, como é lembrado por familiares, morreu domingo em Salvador, vítima de câncer de próstata. Vaidoso e bem-humorado, Anísio sempre se vestia bem, com camisa e calça sociais, e só abria mão da elegância para usar o boné do time querido em dias de jogo. >
Nascido em Riachão do Jacuípe, interior da Bahia, Anísio, que tinha 4 anos quando Lampião nasceu, viveu a era do cangaço e foi prisioneiro da Coluna Prestes, em junho de 1926, no povoado de Pé da Serra. “Ele sempre lembrava das histórias vividas com detalhes. Falava da época em que o bando de Lampião passou por sua terra natal e do momento em que foi preso pelos revoltosos da Coluna Prestes”, conta Max Matos, seu genro. >
Anísio foi o personagem principal do documentário Eu vi a Coluna Prestes passar, de Miguel Antônio Carneiro. No vídeo, ele e outros moradores de Riachão do Jacuípe narram a passagem dos revoltosos e a força erguida pelo Batalhão Patriótico Chapada Diamantina. “A Coluna Prestes foi a história mais marcante da vida de seu Anísio. Ele adorava contar”, lembra Matos. >
Seu Anísio só trocou a cidade natal por Salvador em 1961, quando ficou viúvo pela segunda vez. Recentemente, morava no bairro da Saúde, em Salvador, com sua filha Anísia Ferreira Rodrigues, 65 anos. >
O idoso nunca perdeu a lucidez, mas tinha audição comprometida havia dez anos e usava uma bengala devido às limitações da idade. Pedreiro por profissão e músico nas horas vagas, Anísio chegou a participar da Filarmônica 8 de Setembro, em Riachão do Jacuípe, onde tocava contrabaixo. >
Casou-se duas vezes, a primeira em 1916. Conheceu mais de 45 netos, criou 17 filhos e chegou a enterrar quatro. “É difícil calcular a quantidade de netos, bisnetos e tataranetos. É muita gente. Ele poderia ter feito uma 3ª geração”, afirma o filho Abílio Rodrigues.>
(notícia publicada na edição impressa do dia 18/08/2009 do CORREIO)>
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