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Da Redação
Publicado em 11 de janeiro de 2023 às 09:35
O terreiro de candomblé Unzó Matamba Jesimesi, localizado em Barra de Pojuca, Monte Gordo, no município de Camaçari, está impossibilitado de realizar as atividades religiosas desde o dia 6 de janeiro, em consequência de ataques sofridos em meio a uma disputa pela propriedade. De acordo com o Coletivo de Entidades Negras (CEN), que acompanha o caso, portas e fechaduras foram quebradas para permitir o acesso de dois homens, que são policiais militares, às dependências internas do terreiro. >
Os invasores são irmãos biológicos do fundador do templo, Clovis Gomes Leocadio de Lima, que faleceu em agosto de 2021. O terreiro Unzó Matamba Jesimesi foi fundado em 1979, inicialmente em Lauro de Freitas, e transferido para Monte Gordo em 2000. José Gomes Leocadio de Lima e Jorge Gomes Leocadio de Lima reivindicam a propriedade do terreno e, de acordo com o CEN, têm utilizado a prerrogativa dos cargos que ocupam na PM para coagir filhos de santo e impedir o funcionamento do terreiro.>
“Fiéis do templo sagrado estão impedidos de entrar parar realizar os procedimentos religiosos cotidianos. Além disso, correntes e cadeados foram usados para bloquear o acesso ao terreiro e um outro homem, de prenome Duda, para vigiar o espaço”, diz nota divulgada pelo coletivo.>
Antes mesmo de sua morte, o fundador da casa chegou a empossar o Crispiniano Gleison, que viria a ser o seu sucessor no comando religioso do Unzó Matamba Jesimesi . Gleison, no entanto, não conseguiu garantir a investidura no cargo, devido a ação dos irmãos biológicos de Clovis Gomes, segundo o CEN.>
O terreiro possui registro como associação da sociedade civil, mas o estado de saúde do sacerdote fundador, à época, impediu a transferência da titularidade do imóvel para o CNPJ da instituição.>
O caso está sendo acompanhado juridicamente pelo Coletivo de Entidades Negras (CEN), que estuda os meios para garantir o funcionamento do terreiro. Coordenador jurídico do CEN, o advogado Marcos Alan da Hora Brito pontua que o caso se configura como grave prática de racismo religioso e pode enquadrar os autores das violências também em outros crimes. >
“Estamos diante de um caso de racismo religioso, o que já é grave, mas o uso da força e da prerrogativa de PM para coagir fiéis de uma religião pode gerar a tipificação dos autores em outros crimes e também promover processos administrativos disciplinares contra eles internamente na Polícia Militar da Bahia”, explica o jurista do CEN. >