A redução da Selic, taxa de juros, impacta na sua vida? Economistas respondem

Queda representou 0,5 ponto percentual e taxa chegou a 13,25%

  • Foto do(a) author(a) Luana Lisboa
  • Luana Lisboa

Publicado em 3 de agosto de 2023 às 18:55

null Crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu nesta quarta-feira (2) a nova taxa básica de juros da economia. Após três anos sem quedas, a Selic teve uma queda que saiu de 13,75% para 13,25% ao ano. Para analistas, o momento é sinalização para um ciclo de quedas nos juros.

Mas o que é a taxa Selic e como, de fato, a queda dela impacta na vida do cidadão?

A taxa básica de juros é o principal instrumento usado pelo Banco Central para controlar a inflação, é uma referência nacional que influencia o nível de todas as demais taxas praticadas no mercado. É o caso, por exemplo, do Banco do Brasil, que anunciou, ainda na quarta (2), redução nas suas taxas de juros.

Os juros mais altos significam que fica mais caro para as famílias e empresas emprestarem dinheiro para consumir. Mas, a atual queda ainda não traz grandes impactos na vida do consumidor, de acordo com simulação da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade) sobre as principais modalidades de crédito usadas pelos brasileiros: compras parceladas no varejo, cartão de crédito, cheque especial, CDC (Crédito Direto ao Consumidor) para compra de veículos e empréstimo pessoal em bancos e financeiras.

Quando a Selic estava em 13,75% ao ano, por exemplo, a taxa média de juros nas operações de crédito mais comuns estava em 126,2% ao ano em julho, segundo a Anefac. Já a 13,25%, a expectativa é de que essa taxa média recue para 125,2%. Isso ocorre porque existe uma diferença grande entre a Selic e as taxas de juros cobradas aos consumidores.

No entanto, de acordo com o economista Edval Landulfo, o cenário de quedas futuras aponta para uma  janela de reativação da economia e tende a gerar mais benefícios para a população.

"Muda toda a percepção do mercado. Com os juros altos, as empresas ficam temerosas em investir, porque o crédito fica caro, inclusive para investimento. A população também perde porque o crédito fica mais caro para ela, então consome menos. Mas, com a queda, isso sinaliza que o Copom percebe que a inflação estagnou e dá para fazer esse corte. A brincadeira da taxa de juros é, justamente, para inibir o crédito, uma política monetária para conter o consumo", explica.

Já o presidente do Conselho Regional de Economia da Bahia, Gustavo Pessoti, argumenta que o impacto para quem consome é indireto porque depende da retomada dos empregos. Além disso, há aumento na disponibilidade de crédito, o que, a médio prazo, pode estimular o consumo.

E a longo prazo?

A redução pode significar um maior investimento no setor produtivo, o que pode gerar benefícios a longo prazo, como a geração de empregos. Pessoti explica.

"Quando você tem taxa de juros alta, você estimula o desenvolvimento financeiro em detrimento do desenvolvimento produtivo. Por quê o empresário vai comprar mão de obra, máquina, fazer o procedimento para começar um negócio se ele pode pegar o montante, fazer uma aplicação financeira e ganhar uma taxa de retorno de 16% ao ano? O que faz o Brasil crescer é o aumento da produção de bens e serviços, o que só acontece quando você tem a reativação dos investimentos produtivos", avalia.

Apesar da redução, o Brasil continua ocupando o primeiro lugar no ranking de países com a maior taxa de juros reais, o que a faz ser considerada "tímida" por ambos os especialistas.

E os investidores?

Uma vez que a taxa é uma referência para o sistema financeiro nacional, o impacto para os investidores de renda fixa, principalmente, existe. Mas, Gustavo argumenta que, desde que o sistema começou a perceber que a Selic abaixaria, os bancos e as agências passaram a abaixar o retorno da renda, desde março.

"As aplicações financeiras já vinham perdendo ímpeto mesmo antes dessa queda. Agora, com a queda, todo novo contrato em renda fixa vai ter uma taxa de juros menor, e portanto, uma rentabilidade menor. O investidor ainda vai conseguir ganho real e proteção contra a inflação, então ele não fica descoberto", esclarece.