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Millena Marques
Publicado em 1 de agosto de 2025 às 05:00
A maioria dos brasileiros considera a carne como o segundo produto mais essencial na hora de fazer mercado, atrás apenas do arroz, de acordo com a pesquisa "Ouro na Prateleira", da Reds Research, empresa especializada na Indústria de Bens de Consumo. Embora ocupe um posto de destaque no ranking, ela não é mais a principal fonte de proteína da população. Com a alta dos alimentos, o ovo assumiu o protagonismo. Já a carne, especialmente a de primeira, virou item de luxo em muitas residências brasileiras. >
De acordo com o levantamento, 84% dos brasileiros perceberam aumentos significativos nos preços dos alimentos, e 65% afirmam que essa alta impactou diretamente na alimentação diária - percentual que sobe para 81% entre as classes mais baixas. Por isso, os consumidores têm reavaliado a forma de fazer mercado, priorizando a economia. >
A analista financeira Marluce Dantas, de 41 anos, adota duas estratégias para economizar na hora das compras. A primeira delas é justamente reduzir o consumo de carne vermelha. “Passei a consumir carne vermelha só duas vezes por semana. Aproveitei porque dizem ser mais saudável comer só duas vezes na semana”, diz. A segunda é fazer as compras de hortifruti semanalmente, com o objetivo de evitar desperdício e aproveitar as promoções dos mercadinhos locais. Com isso, ela conta que economiza R$ 250 por mês. >
Para tentar suprir a demanda de proteína, o ovo é a alternativa mais viável. Para Marluce, a forma de deixar o cardápio diferente é variar na maneira de consumir o produto. Ela confirma que, atualmente, consome mais ovo do que carne, mas não necessariamente o produto puro. "Mas em receitas como panqueca, crepioca e omelete. Sempre consumo, também, junto à salada para complementar a proteína”, afirma.>
Os vendedores também percebem o aumento da procura. Ângelo Gava, dono de uma empresa que vende ovos no Centro de Abastecimento da Bahia (Ceasa), estima aumento de até 30% na demanda pelo item entre novembro do ano passado e junho deste ano. "Mesmo que o preço aumente, o ovo continua sendo mais barato do que as outras proteínas". Ele avalia que, além dos preços mais acessíveis, o consumo do ovo se mantém como tendência. >
"Não é só uma questão de preços. As pessoas que frequentam academia, por exemplo, buscam cada vez mais o produto, o que faz a demanda crescer significativamente. As classes baixa e média são as que mais consomem ovos", completa Ângelo Gava. O alto teor de proteínas do alimento, essencial para a construção e reparação muscular, atrai especialmente os praticantes de musculação. >
Carne: artigo de luxo>
Em Salvador, o quilo mais barato da alcatra, corte mais consumido por Marluce, é vendido por R$ 34,90, no Atakarejo da Avenida Vasco da Gama. Já a placa de ovos com 30 unidades mais barata custa R$ 15,99, no JG Mercadinho, na Rua Capitão Vicêncio Constantino Figueredo, em Massaranduba. Os dados são do site Preço da Hora, ferramenta que reúne dados extraídos das notas fiscais eletrônicas do estado da Bahia. >
As carnes bovinas com corte de primeira praticamente se tornaram artigo de luxo na mesa dos soteropolitanos. É que, segundo a última pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o alimento apresentou uma alta de preço de 18,8% entre junho de 2024 e junho deste ano, sendo este o terceiro produto da cesta básica que mais encareceu em Salvador. Já a variação do ovo, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi de 15,8%, no acumulado do ano. >
O economista Gustavo Palmeira explica que a demanda externa por carne, acima da crescente produção interna, elevou o preço no varejo e não há previsão sobre a tendência de variação do produto nos próximos meses. “É muito difícil prever movimentos assim. O mercado de carne está muito instável. Em maio, o preço aumentou, mas, em junho, caiu (não em Salvador, onde aumentou)”, pontua. >
Ainda de acordo com o levantamento da Reds Research, o ovo aparece como o terceiro alimento mais consumido pelos brasileiros, atrás apenas do arroz e do feijão. A carne figura em quarto lugar. “O destaque vai para o ovo, que assumiu o protagonismo como principal fonte de proteína. Arroz e feijão seguem firmes como a base da alimentação brasileira, enquanto o café lidera entre as bebidas mais essenciais, mesmo percebido como um dos produtos com maior alta de preço. Isto porque o café faz parte da rotina e da cultura do brasileiro”, explica Karina Milaré, CEO da Reds e líder da pesquisa. >
Conduzido entre os meses de maio e junho de 2025, o levantamento da Reds Research ouviu mais 2 mil pessoas em todas as regiões do país para entender como os consumidores estão reagindo à alta nos preços de alimentos e bebidas. >
Nutrição>
O ovo é alimento rico em proteína e pode ser utilizado no consumo habitual. No entanto, a nutricionista clínica Carine Oliveira destaca que o alimento tem uma quantidade bem inferior de proteína quando comparado a outros itens como a carne, o frango ou o peixe. "Em dois ovos, cerca de 100g, encontramos aproximadamente 12g de proteína, enquanto a mesma quantidade de peixe, frango ou carne bovina oferece cerca de 30g de proteína, ou seja, mais que o dobro. Então, quando realizamos essa substituição de maneira frequente, podemos desenvolver carência nutricional a longo prazo", pontua. >