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Carol Neves
Publicado em 4 de agosto de 2025 às 10:19
Quase um ano após o acidente com o voo 2283 da Voepass em Vinhedo (SP), novas revelações lançam luz sobre possíveis falhas de manutenção que antecederam a tragédia. A queda do ATR 72-500, que partiu de Cascavel (PR) com destino a Guarulhos (SP) e terminou com 62 mortos, teria sido provocada por problemas não corrigidos no sistema de degelo da aeronave. >
A informação veio à tona após a divulgação de uma gravação feita um mês depois da queda, em que dois funcionários da manutenção lamentam não ter formalizado o registro de uma falha. Um deles admite: “Errei, errei de não ter mandado por escrito”, e afirma estar tomado por um “remorso desgraçado”. O outro aconselha: “printa, manda pro teu celular, guarda isso daí”, chamando a omissão de “sujeira”. >
Segundo apuração do programa Fantástico, o sistema de degelo da aeronave já apresentava falhas que haviam sido reportadas de forma verbal por tripulantes, mas não documentadas oficialmente. Um mecânico da empresa contou que esse tipo de problema era conhecido internamente, mas raramente relatado formalmente devido à “pressão” para manter as aeronaves em operação. “Não podia ficar colocando sempre pane na aeronave”, afirmou.>
O voo caiu durante a aproximação para o pouso, após o comandante tentar uma parada alternativa em Ribeirão Preto e seguir viagem. A investigação aponta que a aeronave perdeu sustentação em uma curva, provavelmente devido ao acúmulo de gelo nas asas. No dia do acidente, os boletins meteorológicos alertavam para risco de formação de gelo em todas as altitudes.>
Acidente com voo da Voepass em Vinhedo
De acordo com o comandante Almeida, que conhecia bem a aeronave acidentada, apelidada de “Papa Bravo”, o sistema de degelo do avião não funcionava como deveria. Ele declarou nunca ter visto o “boot”, dispositivo que infla para expulsar o gelo das asas, operar corretamente naquela aeronave.>
Além disso, ele citou outras situações preocupantes envolvendo a empresa, como o caso de um pouso errado em uma pastagem, em 2016, quando a companhia ainda se chamava Passaredo. Funcionários relataram ainda que a empresa costumava reaproveitar peças de aeronaves fora de operação com pouca fiscalização.>
Outro ponto polêmico diz respeito à forma como o voo foi comercializado. Muitos dos 58 passageiros não sabiam que voariam com a Voepass. As passagens foram vendidas pela Latam, com uma menção discreta à operadora, identificada apenas como “2Z”. O nome Voepass aparecia somente no cartão de embarque, em letra pequena. A Latam informou que o acordo de compartilhamento de voos com a Voepass foi encerrado por decisão própria.>
A Voepass, por sua vez, afirmou que sempre operou conforme os padrões internacionais de segurança e que confia na apuração conduzida pelo Cenipa, o órgão oficial de investigação de acidentes aéreos. Apesar das denúncias e da gravidade do caso, a empresa só teve suas operações definitivamente suspensas em 24 de junho de 2025, quase onze meses após a tragédia.>
O relatório final sobre o acidente ainda não foi divulgado.>