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Perla Ribeiro
Publicado em 3 de novembro de 2025 às 15:30
Ainda era de madrugada de terça-feira, 28 de outubro, quando 2,5 mil policiais civis e militares chegaram aos complexos da Penha e do Alemão, na zona Norte do Rio de Janeiro. Imagens mostram criminosos vestidos de roupas pretas ou camufladas, fortemente armados, aguardando a chegada da polícia no alto do morro. >
À medida que os agentes avançavam, o tiroteio se intensificava. As cenas são da megaoperação que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro na última semana e as imagens foram exibidas, com exclusividade, pelo Fantástico, na TV Globo. magens exclusivas feitas pela inteligência da polícia mostram que, à medida que o tiroteio avançava, os bandidos corriam para se esconder no topo da mata da Serra da Misericórdia. >
Entre os corpos e o bloqueio do lucro do tráfico
Enquanto os bandidos fugiam, a polícia avançava por várias entradas dos complexos. Equipes do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope), entraram pelo Complexo do Alemão e fizeram uma barreira na mata que dá acesso ao Complexo da Penha.Já o Batalhão de Choque entrou pela Vila Cruzeiro, uma das favelas do Complexo da Penha. Do outro lado entraram os agentes da Polícia Civil. >
A imersão foi acompanhada por dois repórteres cinematográficos independentes que se especializaram na cobertura de operações policiais no Rio de Janeiro: Marcello Dórea e Jadson Marques. "A polícia ia progredindo e tiro por tudo que é lado. Nunca vi tanto tiro na minha vida", afirmou Marcello, em entrevista ao Fantástico.>
O repórter cinematográfico Jadson presenciou um dos momentos mais dramáticos da operação: quando policiais civis tentavam resgatar o delegado Bernardo Leal, baleado na perna. Os agentes precisaram quebrar a parede de uma casa, já que era impossível sair do beco onde estavam. O delegado foi levado em uma moto em busca de atendimento médico.>
“Quando conseguiram tirar o delegado, tiveram que improvisar um pedaço de madeira, amarrar um tipo de tipoia, que eles dão o nome, na perna, para poder tentar amenizar o ferimento. Mesmo assim, os tiros não paravam. Continuavam os tiros, no meio do resgate”, contou Jadson. >
Do outro lado, no alto do Complexo da Penha, o drone da polícia registrou mais um confronto. Um grupo de seis policiais se aproximavam da mata quando se deparararam com um grupo de bandidos e foram atacados com dezenas de tiros. Dois policiais caíram no chão e se arrastaram para se proteger; um deles foi ferido na mão e o outro na barriga.>
Imagens mostram o momento que o agente Rodrigo Cabral chega para socorrer um colega. Segundos depois de entrar na mata, eles foram atacados novamente. Rodrigo é atingido por um disparo na cabeça e policiais do Bope precisam rastejar para conseguir chegar até o corpo e resgatá-lo. Rodrigo morreu no local.>
Já passava das duas da tarde quando a equipe de policiais que Jadson acompanhava chegou a uma casa onde um grupo de criminosos estava escondido. Os policiais do Choque descobriram que eles estavam ali escondidos e negociaram para se entregar. Eles não queriam se entregar. Eu fui lá e conversei um pouco com eles: ‘Irmão, eu sou jornalista, estou aqui, vou registrar tudo, pode se entregar’. Aí eles, sim, se entregaram. Eles começaram a sair de um a um”, contou Jadson.>
Um vídeo gravado pelos criminosos mostra o momento da rendição: “Nós vai descer. Qual é, rapaziada, um atrás do outro, ninguém com nada. Tá geral sem camisa, pegou a visão? Tá geral sem camisa, nós vai descer aqui devagar, hein?! Sem esculacho, mano, vai sair geral. Sem esculacho”, disse um homem. Segundo informações da polícia, 26 pessoas foram presas nessa casa.>
Enquanto isso, o conflito continuava na mata, no alto do Complexo, na Serra da Misericórdia, onde ocorreu o confronto mais violento da operação. A polícia conseguiu cercar os bandidos. Foi ali o maior número de mortes. Ao todo, foram cerca de 18 horas de operação, que se estenderam pela noite. A última imagem, feita por um morador, mostra dois blindados deixando a favela por volta de 22h.>
Na manhã de quarta-feira, moradores se reuniram na Praça São Lucas, na região do Complexo da Penha, trazendo dezenas de corpos encontrados na mata durante a madrugada. No total, 121 pessoas foram mortas. Entre elas, 115 já foram identificadas, e 88 tinham anotações criminais e 66 eram de outros estados. Entre os mortos, quatro eram policiais: dois civis e dois militares.>