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Da Redação
Publicado em 19 de maio de 2019 às 15:59
- Atualizado há 2 anos
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) afastou a chefe do Departamento de Meio Ambiente, Daniela Baccas, após o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, anunciar, na sexta-feira, uma análise que teria identificado "fragilidades na governança e implementação" dos projetos do Fundo Amazônia. O Departamento de Meio Ambiente do BNDES é responsável pela operação do Fundo Amazônia, criado em 2008 com doações de R$ 3,2 bilhões da Noruega e de R$ 200 milhões da Alemanha.>
A AFBNDES, associação que representa os servidores do banco de fomento, marcou para a tarde de segunda-feira um ato de desagravo à funcionária afastada do cargo de chefia, que ocupa desde agosto de 2017. O afastamento foi revelado pelo jornal "Folha de S. Paulo" na sexta-feira.>
Segundo o BNDES, a decisão de afastar Baccas da chefia é uma "prática natural enquanto se esclarecem as questões levantadas" pelo Ministério do Meio Ambiente e não representa "qualquer suspeita específica sobre a conduta dos funcionários do banco".>
O anúncio dos resultados da análise feita nos projetos do Fundo Amazônia foi antecipado pela coluna "Direto da Fonte", do jornal O Estado de S. Paulo, na quinta-feira. Inicialmente, havia a informação de que o ministério teria feito a análise em parceria com a Controladoria Geral da União (CGU), mas o órgão federal negou a informação na sexta-feira.>
Salles anunciou os resultados na sede do Ibama em São Paulo, em entrevista coletiva. Segundo uma nota oficial publicada no site do ministério ainda na sexta-feira, a análise foi feita numa amostra de 30% dos 103 contratos já firmados pelo Fundo Amazônia desde 2008.>
O fundo faz financiamentos não-reembolsáveis em projetos de prevenção e combate ao desmatamento, e de conservação e uso sustentável na Amazônia. O BNDES é responsável pelo gerenciamento dos recursos, além de selecionar e acompanhar os projetos. Os 103 projetos já apoiados teve aprovado um total de R$ 1,868 bilhão, do qual já foi desembolsado R$ 1,090 bilhão. O fundo apoia projetos propostos por governos - prefeituras e Estados, mas também a União, incluindo o Ibama -, por ONGs e universidades.>
Conforme a nota oficial do ministério, Salles disse que a análise revelou que "há relatórios de desempenho sem informação, ausência de visitas in loco, prestação de contas sem o respectivo documento e que não corresponde aos relatórios de atividade". "Precisamos ter mecanismos que possam dar uma melhor destinação e escolher projetos que tenham sentido entre si e que possam ter os resultados mensurados", disse Salles, diz a nota do ministério.>
Em nota divulgada no sábado, em que justificou o afastamento de Baccas, o BNDES destaca que o Fundo Amazônia "tem tido papel relevante para a preservação do principal bioma do Brasil, com impacto positivo nas populações dedicadas ao extrativismo e em diversas comunidades indígenas". Sobre a análise anunciada por Salles na sexta-feira, a nota do banco de fomento diz que ações para além do afastamento da funcionária da função de chefia ainda dependem de notificação.>
"Outras ações, como uma abertura de comissão de averiguação interna, se darão apenas depois de a instituição ser notificada formalmente pelo MMA, em linha com o compromisso com a transparência e cooperação com as instâncias de controle institucional que vêm norteando a ação do banco", diz a nota.>
O BNDES ressaltou também que "tem promovido o fortalecimento no controle e acompanhamento do Fundo Amazônia" e que "proporcionou amplo acesso a todo material relacionado às atividades do fundo" para o ministério. Técnicos do BNDES que trabalham no Fundo Amazônia vêm relatando atritos com o Ministério do Meio Ambiente desde o início de fevereiro.>
A Embaixada da Noruega no Brasil saiu em defesa da gestão atual, rebatendo as críticas de Salles. Em nota divulgada também na sexta-feira, a embaixada classificou o fundo como "uma das melhores práticas globais de financiamento com fins de conservação e uso sustentável de florestas". O Fundo Amazônia "estimulou parcerias semelhantes de financiamento climático em todo o mundo", disseram os noruegueses, que procuraram afastar suspeitas de irregularidades na aplicação dos recursos.>
"A Noruega está satisfeita com a robusta estrutura de governança do Fundo Amazônia e os significativos resultados que as entidades apoiadas pelo Fundo alcançaram nos últimos 10 anos. Não recebemos nenhuma proposta das autoridades brasileiras para alterar a estrutura de governança ou os critérios de alocação de recursos do Fundo. O relatório do TCU (Tribunal de Contas da União) sobre a auditoria do Fundo Amazônia em 2018 conclui que: '(...) de maneira geral, os recursos do Fundo Amazônia estão sendo utilizados de maneira adequada e contribuindo para os objetivos para o qual foi instituído'", diz a nota da embaixada.>