Bolsonaro admite aumento no desmatamento, mas 'não da forma como estão dizendo'

Governo vai adotar um novo modelo de monitoramento do desmatamento

  • D
  • Da Redação

Publicado em 1 de agosto de 2019 às 21:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O presidente Jair Bolsonaro admite que houve aumento no desmatamento da Amazônia, mas alega que não da forma como "estão dizendo". Bolsonaro defende que o crescimento é menor do que os 88% identificados por meio de dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), pois é preciso levar em conta falhas no sistema de monitoramento, áreas sobrepostas, ou seja, que já haviam sido identificadas anteriormente, e a recuperação vegetal ocorrida após ocorrências de desmatamento.

Questionado se está preocupado com o aumento das áreas desflorestadas, Bolsonaro disse que quer "cumprir a lei" e que não tem nada contra o "desmatamento legal". "O desmatamento sendo legal ninguém tem nada contra. As propriedades na região amazônica, por exemplo, 20% para ser desmatado. Isso faz parte. Eu quero é cumprir a lei", disse.

"Não tenho ojeriza nem fobia ao meio ambiente, eu quero cumprir a lei. Se estiver errada a lei, a gente busca alterar no parlamento. Na minha opinião (o desmatamento) está aumentando, mas não desta forma como estão dizendo."

Em conversa com jornalistas, ao lado de Bolsonaro, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou que o governo não nega o aumento no desmatamento como um todo. "Nosso objetivo não foi em nenhum momento esconder informação ou negar uma realidade, realidade essa do desmatamento na Amazônia que vem aumentando desde 2012 por diversas razões", afirmou Ricardo Salles.

Entre as razões, o ministro citou "pressão ilegal sobre a floresta". "Nós precisamos, a partir dessa discussão da real análise dos números tratar de maneira franca, aberta e direta quais as razões pra o desmatamento ilegal e de que forma dar alternativas de dinamismo econômico para aqueles que vivem na região."

Salles também declarou que a questão do desmatamento é "apolítica" e que não é o objetivo do atual governo "alocar" os números em outra gestão. "Essa questão do desmatamento é apolítica. Não se trata de alocar números em um governo, neste ou em outro. Simplesmente dizer que não aconteceu em junho de 2019 e que o salto de 88% está equivocado. Isso deveria ser computado e a fragilidade do sistema não permitiu", declarou.Novo método O ministro anunciou que o governo vai adotar um novo modelo de monitoramento do desmatamento no País, após a equipe do presidente da República, Jair Bolsonaro, contestar dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe) com base no sistema Deter

O novo sistema, de acordo com o ministro, terá imagens de satélite em alta resolução feitas em tempo real e sem o que identificou como "lapso temporal" no atual modelo. 

O ministro afirmou que o serviço alertou em junho ocorrências de desmatamento que, na verdade, teriam acontecido em período anteriores, e não naquele mês. 

Além disso, Salles prometeu equipar o corpo técnico do Inpe com servidores permanentes. Atualmente, citou, bolsistas do CNPQ é que fazem o monitoramento. 

O presidente Jair Bolsonaro, na coletiva de imprensa feita no Palácio do Planalto, defendeu responsabilizar pessoas que tenham divulgado dados alarmantes com objetivo de prejudicar o governo e a imagem do País. Ele defendeu "muita responsabilidade na divulgação das informações e compromisso na divulgação desses números".

Contestação Salles apresentou números para afirmar que parte do desmatamento identificado pelo Deter e divulgado em junho deste ano não ocorreu naquele mês, o que causou, de acordo com ele, um "sensacionalismo" nos dados. Bolsonaro, por sua vez, chegou a comparar dados alarmantes com a conta de energia elétrica e defendeu que números altos deveriam ser submetidos ao alto escalão antes da divulgação. 

O Deter registrou uma área de desmatamento de 878,71 quilômetros quadrados em junho deste ano e emitiu 3.250 alertas de desmatamento no período. Desse total, equipes do Ibama e do Inpe analisaram 493 quilômetros quadrados, ou seja, 56% da área dos alertas. Números citados por Salles apresentam que o desmatamento de 31% da área analisada, ou seja, de 265 quilômetros quadrados, não ocorreu em junho de 2019, como informado pelo sistema. Ele mostrou exemplos de algumas ocorrências de 2018 que não teriam sido computadas no período adequado.

O Inpe detectou que houve um aumento de 88% no desmatamento em junho em relação ao mesmo mês do ano anterior. De acordo com Salles, devido às falhas no monitoramento, não é possível apontar qual foi o porcentual real do período. 

Para o presidente Jair Bolsonaro, o desmatamento é abaixo desse índice porque não se levou em conta áreas superpostas e recuperação vegetal ocorridas após ocorrências de desmatamento.

O presidente chegou a comparar o dado com o aumento no preço da conta de luz de um cidadão comum. "Um simples cidadão, quando vê que a conta de luz dobrou de um mês para outro, vê que alguma coisa está errada", disse Bolsonaro, citando um "gato" no vizinho ou perda de energia na rede. 

Bolsonaro afirmou que a divulgação dos dados sobre desmatamento feita pelo Inpe teve objetivo de prejudicar seu governo e a imagem do País no exterior. "O estrago praticamente já está feito fora do Brasil", comentou.