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Brasil quer mandar mais algodão para o mundo

Em 2024, o país se tornou líder mundial em exportações da fibra natural

  • Foto do(a) author(a) Donaldson Gomes
  • Donaldson Gomes

Publicado em 3 de setembro de 2024 às 14:42

Alexandre Schenkel, presidente da Abrapa Crédito: Divulgação

Com um excedente de produção equivalente a três quartos de tudo o que produz, os produtores brasileiros de algodão encaram o desafio de ganhar mais espaço no mercado internacional da fibra. Se a 30 anos, o Brasil era o segundo maior importador de algodão do mundo, em 2024 o país tomou dos Estados Unidos, tradicional produtor, a liderança nas exportações. A consolidação desta posição foi o tema das primeiras discussões no Congresso Brasileiro do Algodão (CBA), iniciado nesta terça-feira (dia 3), no Centro de Convenções de Fortaleza, no Ceará. O evento que reúne representantes de toda a cadeia do algodão no país, com destaque para alguns dos principais produtores, prossegue até a próxima quinta-feira (dia 5).

A cerimônia de abertura do 14º CBA, que marca também os 25 anos da Associação Brasileira do Algodão (Abrapa), foi também um momento de celebrar a retomada da cotonicultura brasileira, que foi devastada na década de 90 por pragas, como o bicudo. Com 62 expositores, 3,5 mil participantes, representações de 25 estados e 19 países, a edição atual do evento já se tornou a maior de todos os tempos, superando inclusive o congresso anterior, que foi realizado em Salvador. “Teremos conteúdos de primeira qualidade, com 115 palestrantes no decorrer da semana, que irão tratar de questões agronômicas, tecnologia, inovação, comunicação e comércio. É um evento bem completo”, destacou Alexandre Schenkel, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), responsável pela realização do CBA.

“Passamos por muitas mudanças em um período curto. Naquela época, quando a Abrapa surgiu, tinhamos uma escala menor, sofremos muito com ataque de pragas, como bicudo, e conseguimos superar os desafios trabalhando muito com pessoas e pesquisas nestes 25 anos”, avaliou o dirigente. Para ele, graças a este crescimento, o país conseguiu passar da condição de um dos maiores importadores de algodão para atender à sua indústria têxtil à condição de maior exportador do produto.

Com expressivos ganhos de produtividade, o país conseguiu ampliar a produção sem a necessidade de grandes aumentos em sua área plantada, destacou o presidente da Abrapa. “Graças à pesquisa, nossa produtividade hoje é quase três vezes maior do que há 25 anos”, comemora. Hoje, o Brasil registra os melhores resultados do mundo na produção em áreas não irrigadas, chamadas de sequeiros, com uma média de 2 mil quilos por hectare. “Nossa preocupação é atingir este resultado com sustentabilidade, preocupados com o meio ambiente e as questões sociais”, ressaltou, lembrando que os produtores compreendem as demandas por sustentabilidade como oportunidades para ganhar novos mercados.

Além de ter se tornado relevante na quantidade de produtos ofertados ao mercado, o Brasil ganhou destaque também em relação à qualidade do produto. “Sustentabilidade representa mais aberturas de mercado, hoje vendemos até para o Egito, que é conhecido por ter o melhor algodão do mundo. Imagina a honra que sentimos em exportar para lá”, destaca.

O caminho para ganhar espaço no mercado internacional passa ainda pela estruturação da cadeia logística. Justamente por isso, os produtores brasileiros ampliaram o programa ABR, que visa garantir a qualidade do produto nas fazendas, para a cadeia de transporte, com o ABR Log. Em outra frente, a criação da Cotton School, que ajuda a propagar as boas práticas de produção, deve se repetir no próximo ano.

O presidente da Apex Brasil, Jorge Viana, destacou o processo de recuperação da cultura e a recente de abertura de novos mercados para o algodão produzido no país. Para ele, os resultados se devem aos investimentos na qualidade do produto. “Estamos diante de uma nova era, de muito sucesso, graças a todo o conhecimento técnico desenvolvido, mas graças também aos produtores. Aqui no Brasil, 82% de tudo o que se produz já tem certificação e 100% do que se exporta é rastreado”, comemora. “Eu ouvi de produtores na Bahia que muitos lá não compram novas áreas para produção, porque o trabalho é desenvolvido pela recuperação de áreas degradadas e com os ganhos de produtividade”.

Viana citou ainda as expectativas de novos aumentos no volume de algodão brasileiro exportado na próxima safra, passando das atuais 2,7 milhões de toneladas para mais de 3 milhões de toneladas. “Estamos dominando um mercado em que apenas cinco países concentram a produção”, destacou.

O presidente da Apex ainda sinalizou com o plano de instalar um centro em Cingapura para estocagem do produto brasileiro.

O ministro da Agricultura, Carlos Favaro, formalizou, em nome do governo brasileiro, um reconhecimento ao programa ABR, que deve garantir aos produtores credenciados como responsáveis taxas de juros 0,5% menores. Para ele, o sucesso internacional do algodão se explica também pelo movimento de abertura de novos mercados. Segundo ele, nos últimos anos, foram 161 novas oportunidades foram criadas. “Teremos grandes anúncios durante o G20”, disse.

Ele sinalizou com estímulos para a recuperação de áreas atualmente degradadas, através de uma linha específica no Plano Safra, que vai oferecer jurios de 6,5% ao ano, além de três anos de carência.

Pensar cada vez mais na internacionalização é fundamental para o desenvolvimento da cotonicultura no país, aponta Marcelo Duarte, diretor de Relações Institucionais da Abrapa. “O país consome internamente entre 600 e 700 mil toneladas, todo o excedente precisa ser exportado. O Brasil lidera as exportações mundiais deve se manter nesta posição na próxima safra”, diz. Atualmente, entre 20 e 30% da safra atual ainda precisa ser comercializada, ao mesmo tempo que 80% da próxima safra ainda tem que ser colocada no mercado, lembrou.

Mesmo com os números positivos, ele lembrou que o cenário é desafiador, com riscos de recessão global e dificuldades decorrentes de guerras, além da concorrência das fibras sintéticas. “Estamos aprendendo a duras penas que os concorrentes não são apenas os produtores de algodão de outros lugares, mas, os combustíveis fósseis e indústria de celulose”, pondera. “Temos que enfatizar que produtos têxteis precisam ser sustentáveis e biodegradáveis”, acredita.

O jornalista está acompanhando o Congresso Brasileiro do Algodão à convite da Basf.