Conselho de Ética analisa suspeita de 'rachadinha' de André Janones nesta terça (28)

Durante uma conversa na Câmara em 2019, Janones cobrou que os funcionários de seu gabinete arcassem com as despesas pessoais dele

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Publicado em 27 de maio de 2024 às 21:58

André Janones
André Janones Crédito: Cleia Vianna/Câmara dos Deputados

O Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados analisa nesta terça-feira, 28, o caso do deputado André Janones (Avante-MG), suspeito de ter cobrado de seus assessores uma devolutiva do salário para pagar despesas pessoais, prática conhecida como "rachadinha". Os deputados votam o parecer de Guilherme Boulos (PSOL-SP), que opinou pelo arquivamento do processo de cassação de Janones.

Pré-candidato à Prefeitura de São Paulo com o apoio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Boulos afirmou que o colega não era parlamentar quando foi gravado por funcionários do seu gabinete pedindo de volta parte dos salários deles. Porém, o áudio contradiz a tese. Os deputados eleitos em 2018 tomaram posse no dia 1º de fevereiro de 2019. A gravação ocorreu no dia 5 daquele mês. Janones nega a prática de "rachadinha" e alega que os áudios foram tirados de contexto.

Durante uma conversa na Câmara em 5 de fevereiro de 2019, Janones cobrou que os funcionários de seu gabinete arcassem com as despesas pessoais dele. Sem saber que estava sendo gravado pelo ex-assessor Cefas Luiz, o deputado disse não estar fazendo nenhuma questão pelo cargo e que alguns assessores de confiança iam receber um salário maior a fim de retornar parte do valor a ele.

"Algumas pessoas aqui, que eu ainda vou conversar em particular depois, vão receber um pouco de salário a mais. E elas vão me ajudar a pagar as contas do que ficou da minha campanha de prefeito. Eu perdi R$ 675 mil na campanha", afirmou.

"'Ah, isso é devolver salário e você está chamando de outro nome'. Não é! Porque eu devolver salário, você manda na minha conta e eu faço o que eu quiser, né? Isso são simplesmente algumas pessoas que eu confio, que participaram comigo em 2016 e que eu acho que elas entendem que realmente o meu patrimônio foi todo dilapidado. Eu perdi uma casa de R$ 380 mil, um carro, uma poupança de R$ 200 mil e uma previdência de R$ 70 (mil) e eu acho justo que essas pessoas também hoje participem comigo da reconstrução disso", acrescentou.

Janones argumentou que a ação não era uma forma de corrupção. "O Mário vai ganhar R$ 10 mil. Eu vou ganhar R$ 25 mil líquido. Só que o Mário, os R$ 10 mil é dele líquido. E eu, dos R$ 25 mil, R$ 15 mil eu vou usar para as dívidas que ficou de 2016. Não é justo, entendeu?"

Paralelamente ao processo de cassação, um inquérito investigando se o deputado operou o esquema de "rachadinha" foi aberto pelo ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), em dezembro do ano passado. A decisão atendeu a um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), procurada por 46 deputados da oposição.