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Desastre em Mariana: em meio a críticas e impasse no STF, Inglaterra inicia julgamento

O caso é considerado maiores processos ambientais coletivos do mundo

  • Foto do(a) author(a) Estadão
  • Estadão

Publicado em 21 de outubro de 2024 às 14:58

Rompimento de uma barragem da Samarco localizada em Mariana (MG) liberou uma avalanche de rejeitos causando 19 mortes
Rompimento de uma barragem da Samarco localizada em Mariana (MG) liberou uma avalanche de rejeitos causando 19 mortes Crédito: Antonio Cruz/Agência Brasil

O julgamento em Londres sobre a tragédia de Mariana, que deixou 19 mortos e lançou 13 mil piscinas olímpicas de lama tóxica no Rio Doce em 2015, teve início nesta segunda-feira, 21, ante a um contexto conturbado de disputa no Supremo Tribunal Federal e críticas ao acordo extrajudicial oferecido às vítimas. A Corte estrangeira vai decidir, em um julgamento previsto para durar três meses, sobre uma possível indenização aos atingidos pelo tsunami de dejetos. O caso é considerado maiores processos ambientais coletivos do mundo.

Em nota, a BHP diz trabalhar com as autoridades e outras partes "buscando soluções para finalizar um processo de compensação e reparação justo e abrangente, que mantenha os recursos no Brasil para as pessoas e o meio ambiente brasileiro atingidos". "A BHP continua com sua defesa na ação judicial no Reino Unido, que duplica e prejudica os esforços em andamento no Brasil", frisou a multinacional.

Apesar de o julgamento ocorrer na Inglaterra, a base da análise da Corte de Londres será a legislação ambiental e civil brasileira. A previsão é que dure 12 semanas, entre depoimentos, sustentações orais, apresentação de evidências e testemunho de especialistas, apontam os advogados das vítimas das tragédias.

A ação teve início em 2018, quando cerca de 620 mil vítimas entraram com a ação. O foro escolhido foi a Inglaterra pelo fato de ser o País onde a multinacional BHP estava listada na Bolsa de Valores. A empresa participava da Samarco - consórcio mantido com a Vale, responsável pela barreira que se rompeu. Em julho de 2022, a Corte inglesa se declarou competente para julgar o caso

No Brasil, se assiste o julgamento enquanto o Supremo Tribunal Federal delibera se municípios podem participar de ações judiciais no exterior. O Instituto Brasileiro de Mineração pediu que a Corte máxima vete tal possibilidade sob alegação de que as cidades buscam "fugir" do regime constitucional brasileiro.

Na movimentação mais recente de tal processo, o ministro Flávio Dino proibiu municípios com ações judiciais no exterior, como Mariana, de pagarem honorários aos escritórios estrangeiros que os representam nas ações fora do País. Segundo o ministro, é necessário que a Corte máxima examine os pagamentos, considerando as "consequências para parcela do patrimônio público nacional".

Na prática, a decisão não afeta os representantes de Mariana no exterior, tampouco o julgamento que teve início nesta segunda, 21. O escritório que representa as vítimas do desastre na Inglaterra, o Pogust Goodhead, só vai receber caso vença a ação. A banca também atua nos casos de Brumadinho e do afundamento de bairros em Maceió.

Além disso, o julgamento tem início no rescaldo de críticas do Movimento dos Atingidos por Barragens ao acordo de repactuação apresentado na sexta-feira, 18, em reunião com representantes do governo federal na sede do Ministério da Agricultura, em Belo Horizonte.

O acordo de repactuação apresentado tem o valor total de R$ 167 bilhões, sendo R$ 100 bilhões de valores novos a serem pagos em 20 anos, diz o MAB, que critica o prazo - "valor baixo para ser repartido em duas décadas". Segundo o grupo, a oferta implica indenizações individuais entre R$ 13 e R$ 30 mil para os atingidos.

COM A PALAVRA, A BHP

O rompimento da barragem de Fundão da Samarco foi uma tragédia e nossa profunda solidariedade permanece com as famílias e as comunidades atingidas.

A Fundação Renova, criada em 2016 como parte do primeiro acordo com as autoridades públicas brasileiras, já destinou mais de R$ 38 bilhões em auxílio financeiro emergencial, indenizações, reparação do meio ambiente e infraestruturas para aproximadamente 430.000 pessoas, empresas locais e comunidades indígenas e quilombolas.

A BHP refuta as alegações acerca do nível de controle em relação à Samarco, que sempre foi uma empresa com operação e gestão independentes. Continuamos a trabalhar em estreita colaboração com a Samarco e a Vale para apoiar o processo contínuo de reparação e compensação em andamento no Brasil.

A BHP Brasil está trabalhando coletivamente com as autoridades brasileiras e outras partes buscando soluções para finalizar um processo de compensação e reparação justo e abrangente, que mantenha os recursos no Brasil para as pessoas e o meio ambiente brasileiro atingidos. A BHP continua com sua defesa na ação judicial no Reino Unido, que duplica e prejudica os esforços em andamento no Brasil.