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Da Redação
Publicado em 5 de novembro de 2009 às 02:28
- Atualizado há 2 anos
Escutas telefônicas feitas pela Polícia Civil, com autorização da Justiça do Rio de Janeiro, mostram diálogos de empresários e funcionários de empresas que estariam envolvidos no esquema de fraudes em licitações que teria desviado até R$ 20 milhões dos cofres públicos.>
Num dos diálogos, um diretor de uma empresa conversa com o interlocutor sobre a abertura de uma empresa de fachada. O empresário afirma que ainda não decidiu quem seriam os titulares e acrescenta: “Eu não tenho quem botar. O lance disso aí é me desvincular”. E, ao ouvir que, com a burocracia, a abertura da empresa levaria 30 dias, afirma: “Mas a dificuldade burocrática é vencida com a facilidade financeira”. >
Em outra escuta telefônica, um funcionário cota preços com um fornecedor e diz a ele que ele pode colocar “mais ou menos o preço” que souber, mesmo sem ter o valor exato. O fornecedor, então, indaga se o levantamento de preços não seria para uma licitação e o representante da empresa responde: “É licitação, mas já ‘tá’ ganha, entendeu?”. >
Em outra, representantes de duas empresas conversam e um deles afirma que conseguiu uma brecha para retardar uma obra numa universidade do Rio. >
Outro diálogo flagrado pela escuta da polícia dá indícios de que a sede da firma seria de fachada. “Tem como mandar essa cobrança para outro endereço? Porque no nosso escritório é aqui, é somente endereço fictício, lá é casa, entendeu? Lá é casa de veraneio”, diz, rindo.>
Em outro trecho, um empresário conta que “conversou com o pessoal da licitação” e que, como uma outra empresa teria enviado uma ‘carta de agradecimento’, sua firma ficaria com a obra, orçada em R$ 70 mil. O jogo de cartas marcadas também fica evidente quando um diretor de uma empresa liga para um concorrente e insinua que ele “ceda” uma determinada obra. >
“Acho que a gente nessa altura do campeonato está precisando dessa obra. Mas eu até poderia ceder para você, mas tenho quase certeza que meu sócio não vai concordar”, diz o interlocutor. “Você teve prejuízo na outra obra, mas isso faz parte do jogo que a gente faz”. >
O esquema de fraudes em licitações do governo do estado envolveria 12 empresas, que teriam lucrado ilicitamente até R$ 20 milhões desde 2008. As informações são do delegado Flavio Porto, que acredita que o prejuízo aos cofres públicos, no entanto, seja ainda maior. >
Segundo as investigações, essas empresas agiriam há pelo menos três anos e estariam agora de olho nas obras que serão necessárias para a Copa 2014 e das Olimpíadas de 2016.>
O delegado, que coordena o Núcleo de Combate à Corrupção e Lavagem de Dinheiro, assinalou ainda que o alerta sobre a possibilidade de fraudes partiu do Núcleo de Licitação da Polícia Civil, que percebeu que as mesmas empresas se revezavam em diferentes licitações. >
Investigações apontaram que as empresas se reuniam e decidiam previamente aquela que sairia vitoriosa na licitação. As demais então apresentavam propostas propositadamente irregulares ou com valores muito altos com o intenção de serem descartadas. Para atuarem como coadjuvantes, as empresas recebiam de R$ 6 mil a R$ 15 mil. No mesmo esquema já ficava combinado qual empresa sairia vitoriosa na licitação seguinte. >
O resultado da licitação era conhecimento com antecedência, de acordo com o delegado, porque a empresa vencedora apresentava um valor abaixo das demais, e era declarada vencedora. >
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(Com informações do G1)>