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Da Redação
Publicado em 21 de novembro de 2020 às 14:55
- Atualizado há 2 anos
Durante a reunião de cúpula do G20, realizada neste sábado (21), o presidente Jair Bolsonaro afirmou que "há tentativas de importar" para o Brasil "tensões" raciais que são "alheias à nossa história". A declaração polêmica do presidente foi dada um dia depois da morte do soldador João Alberto Silveira Freitas, 40, cidadão negro espancado e morto em uma unidade do supermercado Carrefour em Porto Alegre (RS).>
Ao mesmo tempo em que protestos contra o racismo acontecem em várias cidades do país, Bolsonaro afirma que a miscigenação "foi a essência" do brasileiro que "conquistou a simpatia do mundo" e "há quem queira destruí-la, e colocar em seu lugar o conflito, o ressentimento, o ódio e a divisão entre raças, sempre mascarados de 'luta por igualdade' ou 'justiça social". Segundo o presidente, "tudo" isso é feito "em busca de poder".>
O discurso de Bolsonaro não foi transmitido pelo G20, mas disponibilizado pelo Palácio do Planalto no final da manhã deste sábado (21). "Antes de adentrarmos o tema principal desta sessão, quero fazer uma rápida defesa do caráter nacional brasileiro em face das tentativas de importar para o nosso território tensões alheias à nossa história", disse Bolsonaro, na abertura do encontro.>
Em seguida, afirmou que "o Brasil tem uma cultura diversa, única entre as nações. "Somos um povo miscigenado. Brancos, negros e índios edificaram o corpo e o espírito de um povo rico e maravilhoso. Em uma única família brasileira podemos contemplar uma diversidade maior do que países inteiros", disse.>
Na sequência, falou que "não somos perfeitos" e que "temos, sim, os nossos problemas", apesar de que "existem diversos interesses para que se criem tensões entre nós". Emendou, então, uma declaração polêmica na qual afirma que enxerga a todos com as mesmas cores.>
"Aqueles que instigam o povo à discórdia, fabricando e promovendo conflitos, atentam não somente contra a nação, mas contra nossa própria história", disse no encontro do G20, que pela primeira vez foi presidido neste ano pela Arábia Saudita. Apesar disso, por causa da pandemia da covid-19 a reunião foi virtual. Temas como covid-19, economia e reformas também fizeram parte do discurso de Bolsonaro. Confira, na íntegra:>
Senhoras e Senhores,>
Antes de adentrarmos o tema principal desta sessão, quero fazer uma rápida defesa do caráter nacional brasileiro em face das tentativas de importar para o nosso território tensões alheias à nossa história.>
O Brasil tem uma cultura diversa, única entre as nações. Somos um povo miscigenado. Brancos, negros e índios edificaram o corpo e o espírito de um povo rico e maravilhoso. Em uma única família brasileira podemos contemplar uma diversidade maior do que países inteiros.>
Foi a essência desse povo que conquistou a simpatia do mundo. Contudo, há quem queira destruí-la, e colocar em seu lugar o conflito, o ressentimento, o ódio e a divisão entre raças, sempre mascarados de "luta por igualdade" ou "justiça social". Tudo em busca de poder.>
Não somos perfeitos. Temos, sim, os nossos problemas. Existem diversos interesses para que se criem tensões entre nós.>
Um povo unido é um povo soberano. Dividido é vulnerável. E um povo vulnerável pode ser mais facilmente controlado e subjugado. Nossa liberdade é inegociável.>
Como homem e como Presidente, enxergo todos com as mesmas cores: verde e amarelo! Não existe uma cor de pele melhor do que as outras. O que existem são homens bons e homens maus; e são as nossas escolhas e valores que determinarão qual dos dois nós seremos.>
Aqueles que instigam o povo à discórdia, fabricando e promovendo conflitos, atentam não somente contra a nação, mas contra nossa própria história.>
Após essa breve introdução, é uma satisfação participar desta reunião e poder, mais uma vez, trocar experiências com os parceiros do G20, grupo que representa dois terços da população mundial, 90% do PIB e 80% do comércio internacional.>
Infelizmente, devido à crise sanitária, não foi possível nos encontrarmos pessoalmente. Porém, graças à brilhante e criativa atuação da Arábia Saudita, e em particular do Príncipe Mohammad bin Salman, a distância não tem prejudicado nossa busca por resultados que gerem bem-estar e prosperidade para os nossos países.>
Durante nossa última reunião extraordinária, em 26 de março passado, nos comprometemos a tomar todas as medidas necessárias para combater a pandemia e, ao mesmo tempo, proteger e estimular a economia global.>
Também lançamos o compromisso de evitar a interrupção dos fluxos de comércio e das cadeias produtivas globais, buscando promover a cooperação internacional.>
Embora longe do ideal, estou convicto de que estamos obtendo êxito nessas iniciativas.>
Juntos, estamos superando uma das mais graves crises sanitárias da história recente. Estamos vencendo as incertezas, as dificuldades logísticas e, inclusive, a desinformação.>
O Brasil se soma aos esforços internacionais para a busca de vacinas eficazes e seguras contra a covid-19, bem como adota o tratamento precoce no combate à doença.>
Apoiamos o acesso universal, equitativo e a preços acessíveis aos tratamentos disponíveis. É com esse objetivo que participamos de diferentes iniciativas voltadas ao combate à doença.>
No entanto, é preciso ressaltar que também defendemos a liberdade de cada indivíduo para decidir se deve ou não tomar a vacina. A pandemia não pode servir de justificativa para ataques às liberdades individuais.>
Na esfera econômica, nossos países injetaram, em conjunto, mais de 10 trilhões de dólares na economia mundial. Nossos Ministros de Finanças e Presidentes de Bancos Centrais acordaram o “Plano de Ação de Apoio à Economia Global” e a “Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida”.>
Essas medidas contribuíram para assegurar a devida liquidez aos mercados e conferir alívio fiscal aos países mais vulneráveis. Evitamos, dessa maneira, que os efeitos da pandemia fossem ainda mais devastadores.>
As medidas tomadas pelo nosso Governo atenderam mais de 65 milhões de brasileiros com um auxilio emergencial. Com socorro a mais de 400 mil pequenas e medias empresas, preservamos cerca de 12 milhões de postos de trabalho. Também injetamos vultosos recursos nos estados e municípios e, desta forma, reduzimos os índices de pobreza. Com essas medidas, garantimos a sobrevivência e a dignidade de milhares de famílias brasileiras, justamente as mais necessitadas.>
À medida que a pandemia é superada no Brasil, a vida das pessoas retorna à normalidade e as perspectivas para a retomada econômica se tornam mais positivas e concretas.>
Por isso, queremos dar continuidade ao programa de reformas estruturais para fortalecer e estimular ainda mais o crescimento sustentado do Brasil.>
Senhoras e Senhores, a reforma da OMC, que já se fazia necessária antes da pandemia, torna-se, agora, elemento-chave para a recuperação da economia mundial.>
O Brasil defende avanços nos três pilares da OMC: negociações; solução de controvérsias; e monitoramento e transparência.>
Também esperamos que o Órgão de Apelação possa voltar à plena operação o mais rápido possível.>
Na reforma da Organização, queremos que a ambição de reduzir os subsídios para bens agrícolas conte com a mesma vontade com que alguns países buscam promover o comércio de bens industriais.>
Adicionalmente, o processo de reforma da OMC deverá contemplar o estímulo aos investimentos e a criação de condições justas e equilibradas para o comércio internacional, não só de bens, mas também de serviços.>
Por isso, proponho que nossos Ministros debatam e compartilhem melhores práticas sobre como lidar com esse tema, evitando-se cair na armadilha de subsídios e políticas que distorçam o comércio internacional.>
Tenho certeza de que nossa atitude coordenada frente aos desafios da pandemia será, mais uma vez, fundamental para a recuperação econômica mundial.>
Não há tempo a perder. Conto com o apoio de Vossas Excelências para darmos início às mudanças necessárias, em especial no âmbito da OMC.>
Juntos, vamos fortalecer nossas economias e gerar mais bem-estar e prosperidade a nossas populações.>
Muito obrigado.>