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Carol Neves
Publicado em 29 de julho de 2025 às 09:32
Faltando apenas três dias para a entrada em vigor de uma tarifa de 50% anunciada por Donald Trump sobre produtos brasileiros, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva intensifica as tentativas para retirar itens estratégicos da lista, com destaque para alimentos e aeronaves produzidas pela Embraer. A informação foi divulgada pelo jornal Folha de S. Paulo.>
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, tem mantido conversas com o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, na tentativa de preservar setores que, além de essenciais para a economia brasileira, utilizam insumos norte-americanos, como é o caso da Embraer.>
Entre os produtos ameaçados, estão também o suco de laranja e o café. O Brasil é o maior fornecedor mundial de suco de laranja e 42% da produção vai para os EUA. No caso do café, os americanos compraram 2,87 milhões de sacas brasileiras entre janeiro e maio deste ano, o que representa 17,1% das exportações do setor, segundo dados do Cecafé.>
Apesar do esforço diplomático, as negociações com Washington ainda não tiveram avanços concretos. O prazo final para a aplicação da tarifa é 1º de agosto. Em tom de frustração, o presidente Lula afirmou que Alckmin "todo dia liga para alguém e ninguém quer conversar com ele". O Palácio do Planalto insiste que não fará concessões políticas e que o foco das tratativas é exclusivamente comercial.>
Tarifaço de Trump: veja alguns pontos dessa disputa comercial
Uma comitiva com oito senadores brasileiros, liderada por Jaques Wagner, está em Washington buscando apoio de empresários e autoridades locais. No entanto, as chances de adiar a medida são consideradas pequenas. O chanceler Mauro Vieira está em Nova York para um evento da ONU, sem confirmação de reuniões com integrantes do governo Trump. Ontem à tarde, Lutnick afirmou que a aplicação das tarifas seguirá conforme o previsto, incluindo o Brasil.>
Enquanto tenta reverter a medida, o governo brasileiro também lida com a crescente pressão americana sobre minerais estratégicos. Os Estados Unidos demonstraram interesse no acesso a recursos como lítio, nióbio e terras raras, fundamentais para tecnologias de ponta e defesa. Em reunião com o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), o representante da embaixada americana, Gabriel Escobar, formalizou esse interesse. Lula, por sua vez, respondeu dizendo que "essas riquezas pertencem ao povo brasileiro".>
O Brasil tem a segunda maior reserva mundial de terras raras e lidera a produção global de nióbio. Especialistas veem esses recursos como possíveis elementos de negociação, mas alertam para a necessidade de garantir que a exploração gere valor dentro do país.>
Diante da iminência da tarifa, o Ministério da Fazenda já finalizou um plano de contingência voltado às empresas exportadoras que venham a ser afetadas. Segundo Fernando Haddad, a proposta está pronta e aguarda apenas a aprovação de Lula. O plano deve prever a criação de um fundo privado temporário para crédito a setores impactados, mecanismos de proteção ao emprego e a possibilidade de levar a disputa à Organização Mundial do Comércio.>