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Tharsila Prates
Publicado em 18 de agosto de 2025 às 22:33
O escritor baiano Itamar Vieira Jr, dos premiados romances Torto Arado e Salvar o Fogo, foi à rede social nesta segunda-feira (18) para apoiar a colega paulista Lilia Guerra após ela compartilhar um relato sobre o furto de um lençol e de uma manta da pousada onde ficou hospedada em Paraty, durante a Festa Literária Internacional (Flip).>
Lilia escreveu que, quase duas semanas depois de ter retornado para São Paulo, recebeu uma mensagem da gestão do evento, informando que a pousada onde se hospedou relatava que ela havia "levado um lençol e uma manta embora". "Fiquei tão espantada na hora que até ri. Minha Vó dizia que pobre ri à toa", disse ela no sábado (16), na rede social Substack.>
"A produção da Festa foi contatada por que era responsável pela minha estadia e me colocou a par da situação. Me disseram que duvidavam muito que isso houvesse realmente ocorrido. Porém, que se tivesse sido assim, eu só precisava confirmar e eles providenciariam o ressarcimento", continuou Lilia no relato, afirmando também que houve pedidos de desculpas e que ela os aceitou.>
Nesta segunda, Itamar escreveu que "o racismo não é um problema nosso. Não há o que lamentar, a não ser o desperdício de tempo que o abalo das acusações nos toma".>
"Inacreditável que tenham te importunado com tamanha leviandade! Que tenham te causado qualquer sofrimento. O preconceito é torpe e não desaparece com desculpas. Só podemos mudar as coisas denunciando, como você bem fez, e deixando que os que operam o dispositivo da racialidade reconheçam a aberração de suas posições", disse Itamar.>
"Você é imensa, Lilia, e sua obra revela o nosso país fraturado, dividido, dissimulado. Onde querem fazer o racismo parecer um ponto de vista. Onde sempre estão nos dizendo o que fazer, por onde ir, incomodados parecem com nossas escolhas. Por termos escolhido escrever sobre nossos incômodos, por compartilharmos nossa visão de mundo, por falarmos de onde viemos e dos que estão à nossa volta, por tornarmos públicas as nossas esperanças", diz o autor.>
Lilia Guerra nasceu em São Paulo. Em 2014, publicou seu primeiro livro, Amor Avenida, reeditado pela editora Patuá em 2022. Lançou neste ano a compilação de contos Perifobia, que foi finalista do Prêmio Rio de Literatura. Em 2023, foi contemplada com o Prêmio Carolina Maria de Jesus pelo livro de contos Cavaco do Ofício, ainda inédito, e, em 2024, seu romance mais recente, O Céu para os Bastardos (Todavia, 2023), foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura.>
Além de escritora, Lilia também é auxiliar de enfermagem e atua no Sistema Único de Saúde (SUS), trabalhando na promoção de ações de incentivo à leitura e à escrita, sobretudo nas periferias da cidade de São Paulo.>