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Carol Neves
Publicado em 1 de setembro de 2025 às 14:05
Uma investigação da Polícia Federal revelou como uma quadrilha ligada ao PCC estruturava um esquema bilionário de adulteração de combustíveis e lavagem de dinheiro em todo o país. O grupo controlava cerca de 1,2 mil postos e operava de forma organizada, antecipando-se a fiscalizações e usando usinas de etanol, distribuidoras, transportadoras, fintechs e fundos de investimento da Faria Lima. Mensagens divulgadas pelo Fantástico, da TV Globo, mostraram como funcionava o esquema.>
Thiago Augusto de Carvalho Ramos, um dos suspeitos, chegou a escrever em mensagens interceptadas: “Pistola na cintura e diesel, pai, a imagem do posteiro é essa aí”. Em outro momento, acrescentou: “Já tá tudo parado, né? Que a gente sabia que ia começar”.>
O esquema tinha início no Porto de Paranaguá, no Paraná, com a importação clandestina de produtos químicos como metanol e nafta, desviados de indústrias químicas para adulterar gasolina e etanol. Especialistas alertam que o metanol é altamente tóxico, podendo causar perda de visão e falência de órgãos.>
Para abastecer a rede criminosa e lavar dinheiro, a quadrilha adquiriu ao menos cinco usinas de etanol endividadas no interior de São Paulo, pagando até 43% acima do valor de mercado em algumas operações. Distribuidoras como a Duvale, em Jardinópolis (SP), também foram usadas para ampliar o alcance do esquema. Sem faturamento até 2019, a empresa chegou a quase R$ 800 milhões em 2021, e parte do dinheiro foi transferida para o empresário Rafael Renard Gineste, preso ao tentar fugir de lancha em Santa Catarina.>
O transporte do combustível adulterado era feito por caminhões da G8 Log, ligada a Mohamed Hussein Murad, conhecido como Primo. Ao mesmo tempo, Murad publicava posts motivacionais nas redes sociais da transportadora. Em alguns postos do país, fiscais da Agência Nacional do Petróleo (ANP) encontraram até 50% de metanol na gasolina e 90% no etanol, fraudes que aumentavam o lucro do grupo e prejudicavam consumidores.>
O dinheiro movimentado pelo esquema circulava em contas chamadas “bolsão”, dificultando rastreamento. A BK Instituição de Pagamento, de Barueri (SP), movimentou R$ 46 bilhões em cinco anos, parte dos quais chegava a 42 fundos de investimento na Faria Lima, totalizando R$ 30 bilhões já bloqueados pela Justiça. Segundo a força-tarefa, administradoras e fintechs criaram “um verdadeiro paraíso fiscal” dentro do país.>
Alguns suspeitos ainda estão foragidos, entre eles Roberto Augusto Leme da Silva, o “Beto Louco”, apontado como o maior adulterador de combustível do país. A defesa dele nega qualquer envolvimento com o PCC.>