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Yan Inácio
Publicado em 19 de novembro de 2025 às 17:49
Uma professora foi impedida de entrar no Terminal Rodoviário Rita Maria, em Florianópolis, para aguardar por um ônibus durante a madrugada. Em um vídeo que circula nas redes sociais, seguranças barram a mulher sob a justificativa de que ela precisava estar com uma passagem em mãos para entrar no local.>
Nas imagens, publicadas pela vereadora Ingrid Sateré Mawé, a mulher discute com dois seguranças que estão na porta do terminal. Ela questiona o fato de ter sido impedida de entrar. “Fiz um planejamento para vir nesse horário. Eu estava trabalhando e vim agora para fazer a compra da passagem e comer aqui dentro. Estou com fome e não posso entrar”, comenta.>
Um dos seguranças diz que ela deve comprar a passagem por um site para adentrar na rodoviária. Ela continua a discutir e explica que precisa entrar no terminal para se alimentar e usar o banheiro. O pedido é rejeitado e um dos agentes diz: “Você tem que ver isso aí com o prefeito”. Ela também pergunta para quem a rodoviária está fechada e recebe a resposta de que as portas estão abertas apenas “para quem é cliente”.>
Na publicação, a parlamentar diz que denunciou o caso para o Ministério Público do Estado de Santa Catarina (MP-SC). Internautas questionaram a proibição de entrada no terminal nos comentários. “A rodoviária é um lugar público. Eles não podem impedir de entrar. A que pontos chegamos?”, escreveu uma pessoa. “Só uma pergunta, isso não é inconstitucional?”, questionou outra.>
O vídeo foi publicado três semanas depois da divulgação de uma publicação pelo prefeito de Florianópolis, Topázio Neto (PSD). Na gravação, o chefe do executivo da capital catarinense detalha o funcionamento de um posto da Assistência Social instalado na rodoviária da cidade para “controlar o fluxo” de quem desembarca.>
Topázio explica que o posto foi instalado na rodoviária para monitorar quem chega a Florianópolis. “Todos os dias, centenas de pessoas chegam em Florianópolis pela nossa rodoviária. Para garantir um controle de quem chega, instalamos aqui um posto avançado da nossa Assistência Social. Se chegou sem emprego e local para morar, a gente dá a passagem de volta”, afirmou o prefeito. Internautas reagiram com indignação à proposta, questionando se ela fere o direito constitucional de ir e vir.>
Em nota, a Prefeitura de Florianópolis disse que o serviço na rodoviária “dá suporte a todas as pessoas que chegam na cidade e precisam de alguma orientação”. Segundo o comunicado, quando alguém desembarca sem emprego, sem contato familiar e é identificado como tendo sido “enviado por outro município”, a equipe procura entender o motivo e providencia o retorno à cidade de origem. >
A administração destacou que a Assistência Social sempre aciona familiares ou a prefeitura da cidade de onde a pessoa veio para garantir o encaminhamento adequado. >
Segundo o IBGE, Santa Catarina é o estado com maior crescimento da migração interna no país. Reportagem do CORREIO mostrou que o número de migrantes da Bahia em Santa Catarina cresceu 276% na última década, impulsionado pela busca de salários melhores e novas oportunidades de emprego em um estado que, até os anos 1970, tinha pouca projeção nacional, mas que nas últimas décadas investiu no turismo e no marketing territorial de cidades como Balneário Camboriú e Florianópolis. Ao lado das promessas de prosperidade, porém, surgem relatos de xenofobia. Assista à reportagem:>