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Rede Nordeste, O Povo
Publicado em 14 de fevereiro de 2022 às 23:27
- Atualizado há 2 anos
Em 2015, circulou na internet um vídeo em que manifestantes uniformizados e com as caras pintadas pediam a saída da presidente Dilma Rousseff (PT) enquanto dançavam passinhos coreografados em uma avenida de Fortaleza, no Ceará. Não demorou para o registro virar piada nas redes sociais do Brasil, com o "Dança Fora, Dilma" provocando uma chuva de paródias. Anos depois, segundo, um dos organizadores dos atos se diz arrependido pelo ato em prol do impeachment da petista.>
O relato foi feito por três colegas de faculdade do pesquisador acadêmico e articulador das danças, que não teve o nome divulgado. A história é contada na nova temporada de "Além do Meme", podcast de Chico Felitti. O episódio é fruto de uma investigação que teve como proposta saber o que aconteceu com as centenas de pessoas que se juntaram para dançar nas ruas de Fortaleza. O grupo chegou a se reunir três anos depois em defesa do então candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro (ex-PSL, hoje no PL).>
A produção investiga por meses pessoas ou grupos que se destacaram por sua atuação na internet. Outros fatos de forte repercussão já foram explorados em outros episódios, como o famoso Carreta Furacão e o caso da grávida de Taubaté. >
Na época, o vídeo da dancinha foi realizado por Cinthia Freitas e publicado O POVO. Logo se tornou viral. O material mostra centenas de pessoas dançando uma coreografia enquanto pede a saída da então presidente. Em dois dias, o conteúdo já somava de mais de duas milhões de visualizações. >
Na época, foi criado o Tumblr "Dançando Fora Dilma", que reúne paródias do vídeo original com os manifestantes dançando desde Gangnam Style, do Psy, à Sorte Grande, de Ivete Sangalo. Graças à internet, até He-Man e Pikachu entraram na dança. >
O protesto foi idealizado por uma comunidade intitulada Consciência Patriótica, que logo depois publicou uma versão ampliada da dancinha do impeachment para convocar os manifestantes do Ceará a irem às ruas contra o Governo. Ao O POVO, o movimento chegou a ensinar passo a passo a coreografia da dança.>
Em 2018, os manifestantes voltaram às ruas, na Praia de Iracema, em prol da candidatura à presidência Jair Bolsonaro, então do PSL. As faces pintadas de verde e amarelo cantavam frases de apoio ao candidato e clamando para que as pessoas não deixem “o Brasil virar Cuba”. O vídeo somou mais de três milhões de visualizações no Facebook. O ato aconteceu após Bolsonaro ser alvo de um ataque com faca em evento de campanha, em Juiz de Fora (MG). “Descansa, Capitão! Deixa a campanha com a gente“, diz uma das postagens do grupo nas redes sociais.>
Quase seis anos depois, o podcast "Além do Meme" afirma ter encontrado o primeiro porta-voz da mobilização. "Teve a trajetória de vida de um deles que me chamou a atenção e é ela que eu vou contar. Eu descobri onde anda o primeiro porta-voz da dancinha do impeachment. Esse sujeito aqui, que inclusive deu entrevistas como essa ao site do jornal O POVO", diz o locutor. >
Logo depois, Chico Felitti reforça: "Mas, em 2021, esse homem sumiu e não tem rede social nenhuma, só aquela lá, a de negócios, a que as pessoas fazem propagandas de si mesmo o tempo todo e declaram gratidão à empresa em que trabalham, e mesmo lá seu nome está levemente alterado do nome original. Por falar em nome, eu teria total direito de usar o nome e sobrenome dele aqui, afinal, ele é um adulto que. por vontade própria, deu entrevistas, defendeu um movimento político, mostrou seu rosto e divulgou seu sobrenome. Mas eu não vou, porque imagino o quanto as escolhas de vida o tenha ferido mais pra frente". >
O homem, segundo o podcast, é pesquisar acadêmico e estuda Comunicação e Sociologia, com ênfase em artes e em cultura, e também na "manutenção dos recursos naturais planetários”. "E ele ganha bolsas de estudos públicas. Ele fez mestrado e tem pesquisas tanto na Universidade Federal do Ceará (UFC) quanto na Universidade Estadual do Ceará (UECE). Sim, um dos lideres da dancinha vive de dinheiro público da educação", finalizou. >
Neste ano, o Ministério da Educação sofreu um corte de R$ 739,9 milhões no Orçamento, sancionado no dia 24 de janeiro. Trata-se da segunda pasta mais afetada, atrás apenas do Ministério do Trabalho, que teve R$ 1 bilhão de recursos vetados. No ano passado, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) afirmou que o orçamento discricionário para 2021 teve um corte de pelo menos R$ 1 bilhão.>
O material também afirma que alguns dos trabalhos que o ex-líder da dancinha produz são vinculados ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ). Em 2021, o órgão de pesquisa teve o menor orçamento do século. "O CNPQ perdeu 90% das suas verbas. O mesmo órgão que declarou que só vai conseguir pagar 13% das bolsas de estudo para pesquisadores que já tinham sido aprovadas. O ex-líder depende desse dinheiro", afirma Chico. >
O produtor do Podcast afirma que tentou contato com o pesquisador e que manteria o documentário mesmo sem um retorno. No entanto, as investidas não foram bem sucedidas. "Pessoas próximas dele dizem que a dancinha é uma página virada, que ele não fala sobre o assunto", disse Chico Felitti.>
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