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Carol Neves
Publicado em 23 de dezembro de 2025 às 06:03
O primeiro lançamento comercial realizado no Brasil terminou com a queda do foguete HANBIT-Nano poucos segundos após a decolagem no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão. Segundo a Força Aérea Brasileira (FAB), o veículo apresentou uma “anomalia” logo após sair da plataforma e acabou colidindo com o solo. >
Em nota oficial, a FAB informou que o lançamento ocorreu às 22h13 desta segunda-feira (22), dentro da Operação Spaceward. O foguete iniciou a trajetória vertical conforme o previsto, mas o problema interrompeu o voo. Equipes da FAB e do Corpo de Bombeiros do CLA foram enviadas à área de impacto para analisar os destroços e o local da colisão. De acordo com o comunicado, todos os procedimentos de segurança, rastreio e coleta de dados foram executados “exatamente conforme planejado”, dentro dos parâmetros internacionais do setor espacial.>
As equipes técnicas da Innospace, empresa privada da Coreia do Sul responsável pelo foguete, seguem trabalhando na análise dos dados e na apuração das causas, em conjunto com a FAB e outros órgãos envolvidos. A Aeronáutica afirmou ainda que novas informações serão divulgadas à medida que as avaliações avancem.>
Registro ao vivo>
O incidente foi registrado em tempo real por um canal do YouTube especializado em notícias sobre o espaço. O Space Orbit acompanhava o lançamento presencialmente, com transmissão própria e pelo menos duas câmeras posicionadas em Alcântara. No momento da decolagem, foi possível ouvir comemorações, seguidas, segundos depois, pelo relato do apresentador Pedro Pallotta:>
"Tivemos uma explosão. Alguma coisa estourou. Tivemos quarenta segundos de vôo, aproximadamente", afirmou ele durante a transmissão.>
As imagens mostram o foguete em queda e, logo depois, é possível ouvir o som do impacto no solo.>
A Operação Spaceward também era transmitida ao vivo também pela Innospace no YouTube. Pouco depois do lançamento, porém, o sinal foi interrompido e substituído por um aviso em inglês: “We experienced an anomaly during the flight” (“Nós experimentamos uma anomalia durante o voo”, em tradução livre). Antes do corte, as imagens indicavam uma aparente explosão. Veículos de imprensa e páginas especializadas da Coreia do Sul também citaram um possível problema, mas, até aquele momento, não houve manifestação adicional oficial além da nota da FAB.>
Último dia do prazo>
O lançamento havia sido inicialmente programado para novembro e acabou adiado cinco vezes, sendo quatro delas desde a terça-feira da semana passada. Segundo a FAB, a janela de lançamento - período em que o foguete pode subir com o trajeto livre de riscos como detritos espaciais - se encerraria nesta segunda-feira.>
O HANBIT-Nano transportava oito dispositivos classificados como “experimentos”: sete brasileiros e um indiano. Entre eles, estavam dois nanossatélites desenvolvidos pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), destinados ao estudo de sistemas de comunicação de baixo consumo energético aplicados à Internet das Coisas. A carga incluía ainda um satélite educacional com versões de teste de tecnologias como painéis solares e instrumentos de navegação, além de mensagens de estudantes da rede pública local e de comunidades quilombolas.>
O episódio ocorre duas décadas após o acidente de 2003 em Alcântara, quando 21 técnicos e engenheiros civis morreram após a explosão do foguete brasileiro VLS-1 durante ajustes finais antes da decolagem. Desde então, o país revisou e atualizou diretrizes do setor, como o Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE) e o Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), ambos com previsão de aumento de recursos para o desenvolvimento de tecnologias próprias.>