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Da Redação
Publicado em 31 de agosto de 2023 às 07:47
O Senado aprovou ontem, por 34 votos a 27, o projeto de lei do Carf. A proposta retoma o voto de qualidade a favor da União dentro do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais da Receita Federal, que julga reclamações de contribuintes. A texto aprovado altera a legislação atual, que passou a vigorar em 2020 e dá vantagem ao contribuinte em caso de empate no colegiado. Agora, o projeto será encaminhado à sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.>
O projeto é um dos ativos do Ministério da Fazenda para tentar reduzir o déficit fiscal e tentar zerá-lo no próximo ano. O governo tem dito que a medida terá um impacto de cerca de R$ 54,7 bilhões anuais. A proposta foi aprovada na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) na semana passada. O relatório do senador Otto Alencar (PSD-BA) não tinha mudanças significativas em relação ao texto aprovado na Câmara. Havia apenas alguns ajustes, chamados de emendas de redação, que não modificam o mérito da proposta.>
Os ajustes de redação feitos no texto atenderam ao interesse do governo Lula e da equipe econômica, que não gostariam que o projeto voltasse à Câmara para uma última análise.>
"Se der empate é pró-réu, significa que é melhor dispensar a existência do Carf, acabar na segunda instância administrativa e, a partir daí, aquele que não concordar com a decisão vai à Justiça, que, ao fim e ao cabo, é a definitiva instância para dirimir qualquer questionamento", disse o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), ao defender a proposta. "Não é verdade que tudo foi desempatado a favor (da União). E vou repetir: a concentração já mostra que megaempresas poderosas é que acabam sempre recorrendo ao Carf", disse.>
O senador Rogério Marinho (PL-RN), líder da oposição no Senado, criticou a proposta pelo fato de representar uma forma de o governo aumentar a arrecadação e tentar zerar o déficit público. "O governo aumenta de forma irresponsável os gastos públicos e busca resolver o seu problema com receitas não recorrentes, receitas que não vão se repetir no ano subsequente, uma vez que nós estamos falando de um estoque, e esse estoque vai se exaurir Ou seja, não vai acontecer, nos anos subsequentes na mesma proporção, mas o problema está dado", afirmou o oposicionista.>
O governo corre contra o tempo para apresentar uma série de medidas de reforço aos cofres públicos para que os recursos possam entrar na conta do Orçamento de 2024. Isso porque o projeto de lei orçamentária do próximo ano, que tem de ser enviado para o Congresso até hoje, irá prever equilíbrio entre receitas e despesas, como reforçou na segunda-feira o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Para isso, o governo terá de aumentar a arrecadação. Veja as medidas arrecadatórias com as quais o Planalto conta para reforçar o caixa.>
1. Fundos exclusivos>
O governo editou uma medida provisória (MP) que muda a tributação dos chamados fundos exclusivos. Eles são chamados assim por serem fechados e terem apenas um cotista, diferentemente dos tradicionais do mercado, abertos a diversos cotistas.>
A modalidade prevê um portfólio muito mais personalizado e é direcionada a investidores com patrimônio elevado, pois exigem investimento mínimo de R$ 10 milhões, com custo de manutenção de até R$ 150 mil por ano. A MP determina cobrança de 15% a 20% sobre os rendimentos desses fundos, que será realizada duas vezes ao ano, no sistema chamado de "come-cotas", como ocorre com os fundos tradicionais no mercado. Isso porque, hoje, a tributação dos fundos exclusivos é realizada apenas no resgate do investimento.>
Há 2,5 mil brasileiros com recursos aplicados nesses fundos, que acumulam R$ 756,8 bilhões de patrimônio. O investidor que optar por iniciar o pagamento em 2023 será tributado com uma alíquota menor, de 10%.>
2. Fundos offshore>
O governo enviou um projeto de lei que prevê a tributação anual de investimentos no exterior, os chamados fundos offshore, com alíquotas progressivas de 0% a 22,5%. Atualmente, o capital investido no exterior é tributado apenas quando resgatado e remetido ao Brasil.>
Dados do Ministério da Fazenda apontam que investidores pessoas físicas têm por volta de R$ 1 trilhão em ativos no exterior. Boa parte desses investimentos está aplicada em países considerados paraísos fiscais, que praticam baixa ou nenhuma tributação para facilitar a aplicação do capital estrangeiro.>
O projeto prevê a possibilidade de o contribuinte atualizar o valor de seus bens e direitos no exterior ainda neste ano e tributar o ganho de capital pela alíquota de 10%, em lugar dos 15% previstos na legislação vigente.>
3. Apostas esportivas>
A proposta do governo para taxar as apostas esportivas online foi anunciada em julho. Pelas regras, uma empresa só poderá atuar no Brasil se for credenciada junto ao governo federal.>
Para isso, terá de pagar outorga à União, ter sede no País e capital mínimo de R$ 100 mil. A taxação das empresas será de 18% sobre o GGR (gross gaming revenue, na sigla em inglês) - ou seja, sobre a receita obtida com os jogos, subtraídos os prêmios pagos.>
Já os apostadores pagarão uma alíquota de 30% de Imposto de Renda sobre o prêmio, mas com isenção para valores até R$ 2.112. A proposta também prevê uma série de regras para impedir ilegalidades no setor, como, por exemplo, a proibição para que jogadores, árbitros, dirigentes e menores de 18 anos realizem apostas.>
Como mostrou o Estadão, houve um acordo para que a proposta fosse fatiada em uma MP e em um projeto de lei. A tendência, porém, a contragosto da Fazenda, é de que o texto da MP, focado na taxação, seja incorporado ao projeto de lei, que aborda a estrutura e processos administrativos para fiscalização>
4. Juros sobre capital próprio>
A equipe econômica avalia mudar a forma de tributação dos chamados Juros Sobre Capital Próprio (JCP) em vez de acabar de fato com esse instrumento de remuneração dos acionistas das empresas.>
O JCP é um dispositivo usado por grandes empresas que permite que a remuneração (distribuição de lucros) aos acionistas seja enquadrada como despesa - e, assim, abatida do Imposto de Renda>
Dessa forma, o pagamento de JCP estimula o uso de capital próprio das empresas em vez de buscarem empréstimos, ao rebaixar o custo do uso de recursos do acionista em projetos de investimento.>