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Traficantes do Ceará pagavam R$ 100 mil por hospedagem na parte alta da favela da Rocinha

Chefe do tráfico do Comando Vermelho na Rocinha teria aceitado abrigar os bandidos do Ceará, num esquema apelidado de “home office”

  • Foto do(a) author(a) Perla Ribeiro
  • Perla Ribeiro

Publicado em 6 de junho de 2025 às 11:28

Fuzis e pistolas foram apreendidos em operação na Rocinha
Fuzis e pistolas foram apreendidos em operação na Rocinha Crédito: Divulgação/ PMERJ

Os traficantes do Ceará pagavam R$ 100 mil por hospedagem na parte alta da favela da Rocinha, na Zona Sul do Rio de Janeiro, de acordo com a investigação policial. O chefe do tráfico do Comando Vermelho na Rocinha, John Wallace da Silva Viana, o Johnny Bravo, teria aceitado abrigar os bandidos do Ceará, num esquema apelidado de “home office”. Na operação policial realizada no último sábado (31), foram encontradas duas casas de alto padrão que seriam dos chefes cearenses: José Mário Pires Magalhães, o ZM ou Bin Laden; e Anastácio Paiva Pereira, o Doze ou Paizão. Com extensa ficha criminal, os dois são suspeitos de praticar crimes com muita crueldade: eles usariam como bolas de futebol as cabeças de inimigos cortadas com motosserras. As informações são do jornal O Globo.

A facção criminosa cearense que se instalou na Rocinha com apoio logístico do CV e é apontada como responsável por mais de mil homicídios no Ceará nos últimos dois anos — muitos deles cometidos com requintes de crueldade. A ação integrada para cumprir 29 mandados de prisão e 14 de busca e apreensão na comunidade da Rocinha contou com o efetivo de aproximadamente 80 agentes da Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI/MPRJ) e de diversas estruturas do Comando de Operações Especiais da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ). A ação do Ministério Público para o cumprimento das ordens judiciais foi coordenada pelo procurador-geral de Justiça, Antonio José Campos Moreira. Os mandados, incluindo o sequestro de bens dos investigados, foram expedidos pelo Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, com base em investigação conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (GAECO/MPCE), que identificou integrantes da facção criminosa Comando Vermelho do Ceará escondidos na Rocinha.

O principal alvo da ofensiva era a cúpula da facção, que operava à distância de dentro de uma mansão na localidade da Dioneia, no alto da Rocinha, equipado com duas piscinas aquecidas, cascata e área gourmet. O imóvel, que continha uma academia com equipamentos novos e um deck panorâmico, seria do traficante cearense Anastácio Paiva Pereira, conhecido como Doze ou Paizão. Ele é um dos chefes de uma facção que comanda o tráfico de drogas na cidade de Santa Quitéria, no interior do Ceará. Paizão tem cinco mandados de prisão em aberto por crimes de homicídio, organização criminosa e tráfico de drogas.

Mesmo a distância, os investigados continuavam coordenando remotamente práticas criminosas, como tráfico de drogas e execuções no estado nordestino. Durante o planejamento da operação, os setores de inteligência do MPRJ e da Polícia Militar detectaram a presença de homens fortemente armados — com cerca de 70 fuzis — na localidade que teria sido arrendada pelos alvos dos mandados. Cerca de 400 bandidos, segundo cálculos dos investigadores, foram flagrados numa área verde no alto da Favela da Rocinha por um drone recém-adquirido pelo governo do estado, capaz de filmar em locais com pouca iluminação. As imagens mostram homens com roupas pretas ou camufladas, em fila e armados com fuzis, deixando a localidade conhecida como Dioneia rumo à Floresta da Tijuca.

As imagens dos criminosos fugindo da Rocinha foram vistas em tempo real em um telão instalado na antessala do secretário da Polícia Militar, Marcelo de Menezes, no Quartel General, no Centro. Desde a madrugada, Castro, o secretário da PM e o de Segurança Pública, Victos Santos, acompanharam a operação policial com promotores do Rio e do Ceará. A cena da fuga revela ainda a organização militar dos traficantes. Ao perceber a entrada do Batalhão de Operações Especiais (Bope) no morro, os bandidos já tinham pronto o seu kit de sobrevivência na selva: mochila com suprimentos e fuzil.

As investigações sobre os traficantes cearenses escondidos na Rocinha começaram três dias antes das eleições para a prefeitura de Santa Quitéria, cidade do interior do Ceará, em 2024. Segundo o Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ceará, a promotoria eleitoral pediu auxílio por desconfiar que o Comando Vermelho (CV) de lá estaria coagindo eleitores a reelegerem o então prefeito. "Há informações de que o então prefeito ameaçava também opositores, expulsando-os de Santa Quitéria", explicou um dos promotores do Gaeco, que pediu para não ser identificado.

A partir da delação premiada de um traficante cearense, descobriu-se que os chefes do CV local teriam recebido R$ 1,5 milhão pelo apoio ao político e que estavam escondidos na Rocinha. Durante a operação de sábado — a segunda feita com o Gaeco do Ceará no Rio —, foram apreendidos dezenas de celulares para análise. Há informações, ainda não confirmadas, de que 29 chefes do tráfico do Ceará pagavam R$ 100 mil para se “hospedarem” na Dioneia. Não se sabe se o valor era mensal ou anual. Além dos chefes, o Gaeco calcula que 80 bandidos tenham vindo do Ceará para fazer a segurança da cúpula. Daí a informação de que, nas imagens, havia cerca de 110 cearenses, sendo os demais bandidos do Rio e de outros estados, como o Pará.