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Da Redação
Publicado em 1 de março de 2023 às 14:58
- Atualizado há 2 anos
O vereador Sandro Fantinel, de Caxias do Sul (RS), foi expulso do Patriota nesta quarta-feira (1º), depois de um discurso em que questionou a repercussão do caso de trabalhadores em situação de escravidão em vinícolas gaúchas. Na fala, ele fez comentários ofensivos e preconceituosos contra os trabalhadores baianos. >
O partido classificou o discurso de Fantinel como "desrespeitoso e inaceitável" e disse que o tom foi maculado por "grave desrespeito a direitos constitucionalmente assegurados", como a dignidade humana.>
Fantinel falou na tribuna da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul para pedir que os produtores da região não contratem mais "aquela gente lá de cima", em referência à Bahia - a maior parte dos 207 trabalhadores resgatados nas vinícolas era da Bahia. >
O vereador sugere que os produtores dêem preferência a empregados da Argentina, afirmando que esse são "limpos, trabalhadores e corretos". >
O vereador não foi encontrado para comentar a expulsão do partido. Para a RBS TV, na manhã desta quarta, ele afirmou que sua intenção foi advertir os produtores a terem "um certo cuidado". "Porque existem alguns grupos que estão dando golpes usando a questão da analogia à escravidão", disse. Ele tentou justificar suas palavras. "Quando a gente está no calor da fala, (...) a gente diz palavras que não é o que a gente quer dizer, que não representa a gente. A única coisa que eu disse dos baianos é que eles gostam só de tocar tambor e ficar na praia, né. Se a gente fosse ter essa conversa em um outro momento, a pessoa iria dizer: 'ah, é verdade. É a cultura deles, não tem nada de mau'. O problema é que entrou em um contexto que foi interpretado como forma de falar mal deles", afirmou.>
Fala preconceituosa Na fala, Sandro Fantinel culpa os empregados pelas condições em que foram encontrados. "Um agricultor me ligou e pediu para eu ver um alojamento onde ficam os trabalhadores temporários e não dava para entrar do fedor de urina, da imundície que eles deixaram em uma semana. E a culpa é de quem? O patrão vai ter que pagar o empregado para fazer limpeza para os bonitos? Temos que botar eles em um hotel cinco estrelas para não termos problema com o Ministério do Trabalho?", questionou, antes de citar os baianos.>
Em seguida, se dirigindo às empresas agrícolas e aos agricultores do Rio Grande do Sul, ele diz: "Não contratem mais aquela gente lá de cima. Contratem argentinos. São limpos, trabalhadores, corretos e quando vão embora ainda agradecem pelo trabalho".>
Em sessão gravada, o vereador continua: "Nunca tivemos problema com um grupo de argentinos. Agora com os baianos, que a única cultura que eles têm é viver na praia tocando tambor, era normal que se fosse ter esse tipo de problema. E que isso sirva de lição. Que vocês deixem de lado esse povo que está acostumado com Carnaval e festa", continua.>
Por fim, Fantinel questiona a condição de escravidão que foi denunciada, mencionando que alguns dos trabalhadores que estavam no local não queriam deixar o lugar.>
"Se estava tão ruim a escravidão, porque eles não quiseram deixar a empresa? Vamos abrir o olho quando eles falam em 'trabalho análogo a escravidão", finaliza. Dos 207 resgatados, 198 são da Bahia. Desses, 194 retornaram e quatro preferiram ficar no Rio Grande do Sul.>
Boletim de ocorrência Horas depois da sessão, o deputado estadual do RS Leonardo Radde (PT) publicou nas redes sociais que registrou um novo boletim de ocorrência contra a fala do vereador. "O Rio Grande do Sul e o Brasil não são lugares para racistas, escravocratas!", disse.>
Fuga e resgate O que três trabalhadores relataram aos agentes da Policia Rodoviária Federal (PRF) de Bento Gonçalves, cidade situada na Região Serrana do Rio Grande do Sul, levou à descoberta de um galpão com cerca de 240 trabalhadores em condições análogas à escravidão, segundo o Ministério Público do Trabalho. Grande parte das vítimas veio da Bahia. Eles foram resgatados no município vizinho de Caxias do Sul - polo produtor de uvas e vinhos finos das serras gaúchas. Ao divulgar o caso na sexta-feira (24), a PRF não revelou as identidades das vítimas. Após o resgate, os trabalhadores contaram aos policiais que foram contratados para trabalhar em vinícolas, colhendo uvas em Caxias do Sul. Foi garantido ao grupo salário de R$ 3 mil, acomodação e alimentação. Na chegada, contudo, encontraram condições desumanas.>
De acordo com os relatos, os trabalhadores foram colocados em um alojamento em condições precárias, mal iluminado e com ventilação escassa. Durante as refeições, recebiam alimentação estragada. Os salários era pagos com atraso, e as vítimas contaram que eram coagidas a permanecer no local, sob pena de pagamento de multa por quebra do contrato de trabalho. Uma arma de choque e um spray de pimenta foram apreendidos no alojamento.>
Havia ainda longas jornadas de serviço e também castigos físicos, narraram as vítimas. A PRF divulgou um vídeo nas redes sociais do momento em que os trabalhadores foram resgatados.>