Acesse sua conta
Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Recuperar senha
Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Dados não encontrados!
Você ainda não é nosso assinante!
Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *
ASSINE

A maternidade não é igual para todas

O mito de que mãe têm dotes de proteção naturais se desfaz na primeira virose. Filho não vem com bula de como cuidar, educar

Publicado em 11 de maio de 2025 às 05:00

Eu já estava sem fôlego. Sol de início de manhã. Uma hora correndo atrás daquela bolinha na areia fofa. Um lobby do time adversário me fez desistir da jogada, imaginando que não alcançaria. Fui surpreendida com a bola voltando para a quadra. Uma mulher - que mal sabia pegar na raquete - devolveu a bola redonda.

- Eu vim dali!, ostentou orgulhosa a filha que trazia a mãe para uma aula experimental de Beach Tênis.

Nada sei sobre a história daquela mãe e filha, mas a cena é uma metáfora de quem se aventura na maternidade. Não importa se a gestação foi planejada ou inesperada, nunca estamos prontas. E ainda assim entramos no jogo tentando dar nosso melhor. Sem entender as regras, desconhecendo nossa vulnerabilidade e potencial, os desafios da jornada, as mães abraçam os filhos nem sempre cientes do peso da responsabilidade de levar a existência humana adiante.

A maternidade começa. E é bola para frente o tempo todo! A gente adentra no complexo campo das emoções. Rapidamente – ou nem tanto - entende que a vida não vai ser como antes e vamos nos deparar com necessidades e transformações diárias. O mito de que mãe têm dotes de proteção naturais se desfaz na primeira virose. Filho não vem com bula de como cuidar, criar, educar.

De repente, já não cabem nas roupas e nós nos remendando por dentro na tentativa de dar conta. Habitadas por outro ser, transformadas pela gestação, esvaziadas após o nascimento, seguimos embaladas pelo efeito sanfona. O puerpério traz à tona questões, simbólicas, imaginárias e reais, da mulher com seu corpo. Com sua identidade. Sem falar no impacto psíquico. A situação é agravada e não vista nas camadas sociais mais vulnerabilizadas. Os marcadores de raça, classe e gênero atravessam o maternar. Muitas vezes, de forma cruel.

São tantas dores e medos. Do parto, para começar. Do bebê não ter cinco dedos em cada mão, de não conseguir amamentar, de como equilibrar as demandas do filho pequeno com o trabalho, o pânico da adolescência, do envolvimento com drogas. Sem esquecer a dor das tentantes. Das que não conseguem ter filhos. Das que tiveram perdas gestacionais. Das que voltaram da maternidade com o colo vazio. Das que aguardam na fila de adoção. Das mães negras que assistem crianças e jovens serem dizimados pela guerra entre facções ou pela violência do estado.

Medo de não ser suficiente para bancar as despesas ou ter que abrir mão dos próprios sonhos. Constituir família e ter filhos deixou de ser ideal para muitas mulheres. A pesquisa Sonhe como uma Garota ouviu 1080 delas acima de 18 anos, de diversas partes do país, que apontaram viajar como prioridade. Em todas as faixas etárias, desbravar o mundo, com liberdade financeira, está no topo do ideal feminino.

As mulheres são donas de seus corpos, das suas histórias e destino. Resposta para a sociedade machista em que vivemos. Com altos índices de feminicídios, fruto de relações tóxicas com dominadores disfarçados de parceiros. Para além da cartilha heteronormativa, duas mulheres podem compartilhar o desafio de maternar, cada uma com perspectiva e vivência diferente. Com transformações únicas. Porque tornar-se ou ocupar o lugar de mãe, invariavelmente, nos reinventa como filhas.

No jogo da vida, é libertador perceber a ancestralidade que carregamos e estamos passando adiante. A mulher é meio de transporte para adentrar nessa existência, mas não deve ser a única a assumir a responsabilidade pela criação dos filhos. É urgente um sentido coletivo de cuidado. Hoje e todos os dias do ano, honre quem te deu o presente chamado vida.