A relação entre os medicamentos e a constipação

Uso de medicações para tratar distúrbios psicológicos também pode estar associado a constipação

Publicado em 6 de março de 2024 às 05:00

Comum em pessoas de idade avançada, sexo feminimo e status socioeconômico mais baixo, a constipação é um problema de saúde que causa desconforto e, em alguns casos, pode se tornar crônica. Boa alimentação, exercício físico e ingestão de água podem ser algumas das ações para evitar a famosa prisão de ventre. Mas você sabe o que pode provocá-la?

Durante um estudo realizado pela pesquisadora dinamarquesa Hanne Konradsen e colaboradores (2022), entre a população idosa de Greater Western Sydney (GWS), foi investigado o impacto do uso de medicamentos na constipação, no qual foi encontrado uma prevalência de constipação em 33,9% da população e, assim, chegou-se a uma conclusão de que a constipação está associada ao número de medicamentos tomados, especialmente os que apresentam efeito adverso como os opióides, medicamentos para úlcera péptica e doença do refluxo gastroesofágico, agentes antitrombóticos, outros analgésicos e antipiréticos.

Além disso, o uso de medicações para tratar distúrbios psicológicos, como ansiedade e depressão, também pode estar associado a constipação, assim como medicações direcionadas ao tratamento contra dores e atualmente utilizadas para perda de peso, como a semaglutida. Essa droga, inicialmente usada no tratamento do diabetes, vem sendo amplamente prescrita nos protocolos de emagrecimento. Porém, observa-se que, juntamente à perda de peso, o paciente evolui para um quadro de constipação, algumas vezes grave.

Com frequência, o paciente recorre ao médico com o objetivo de tratar um problema de saúde. Após consulta, geralmente consegue êxito na resolução da patologia inicial, mas devido ao atendimento “engessado e mecânico”, em pouco tempo retorna para o cuidado profissional, porém para o tratamento de um novo diagnóstico, provocado pelos medicamentos tomados anteriormente. É assim também que acontece com parte dos pacientes que sofrem com constipação.

Para evitar que os casos relacionados à medicação aumentem, são necessários cuidados por parte dos profissionais de saúde no momento da prescrição. Um olhar mais amplo ao tratar o indivíduo é condição inerente, obrigatória para qualquer profissional da área de saúde. Assim, o paciente recebe um atendimento personalizado e não cai na “armadilha” de tratar um problema enquanto adquire um novo.

Glícia Abreu, médica coloproctologista com mais de 33 anos de experiência na área. Atua principalmente no tratamento de disfunções do assoalho pélvico, incontinência fecal, constipação, tratamento de doenças orificiais, realizando cirurgias e exames. É professora na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública e coloproctologista no Serviço Estadual de Oncologia (Cican).