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Publicado em 13 de outubro de 2025 às 05:00
Chegar aos 60 anos, em pleno século 21, é ocupar um lugar raro na história: o de quem atravessou dois mundos. Nós, que hoje temos 60+, vivemos intensamente uma realidade analógica — e, ao mesmo tempo, testemunhamos a revolução digital que transformou tudo ao nosso redor. Essa travessia nos dá uma vantagem competitiva que poucas gerações tiveram: a de conhecer o “antes” e o “depois”, de ter repertório para comparar, entender e, sobretudo, se adaptar. Somos uma geração privilegiada. Única na história. >
Na juventude, a informação era escassa. Quem quisesse aprender (além da educação formal) precisava recorrer a livros, revistas, enciclopédias e frequentar bibliotecas. As notícias chegavam pela TV aberta, em poucos canais, ou pelo rádio. Era o tempo da espera, da paciência e do esforço para conquistar conhecimento. Hoje, a realidade é oposta: o desafio não é acessar, mas filtrar o excesso de informações que circulam, em segundos, nas redes sociais, nos buscadores, na palma da mão.>
Nós usamos máquinas de datilografia, telex, fax, fitas cassete, discos de vinil e CDs. Vimos nascer os computadores pessoais, a popularização dos desktops, a chegada dos notebooks e, depois, a revolução da miniaturização. Testemunhamos a telefonia celular romper fronteiras, vimos a internet transformar conexões em redes sociais globais, o streaming reinventar a forma de consumir conteúdo, a música se tornar ilimitada no Spotify — e agora vivemos a ascensão da inteligência artificial. Somos a geração que assistiu à história acelerar diante dos próprios olhos — e ainda seguimos ativos, produtivos e criativos, em um mundo que já não lembra aquele onde começamos a jornada.>
Essa experiência é um ativo poderoso. Nos torna valiosa também a oportunidade de interagir com os jovens de hoje. Eles nasceram imersos no digital, pensam e agem em alta velocidade, têm ousadia criativa e capacidade de reinventar linguagens e mercados. Ao convivermos com eles, ganhamos novas lentes para olhar o presente e o futuro, enriquecendo nossa própria experiência. E, ao mesmo tempo, podemos oferecer a eles nossa bagagem de vida, nosso senso crítico e a perspectiva histórica que ajuda a contextualizar. É uma troca: aprendemos com eles e contribuímos com aquilo que só o tempo ensina.>
Não há contradição entre gerações, há complementaridade. O jovem de 20 ou 30 anos não conheceu a vida sem internet. Nós, sim. Essa memória nos torna mais resilientes e nos coloca numa posição única para dialogar com o passado, compreender o presente e projetar o futuro. Quando unimos a vitalidade e a criatividade da juventude com a experiência e a visão de quem já atravessou transformações profundas, o resultado é poderoso.>
Por isso, chegar aos 60, atentos, é estar adiantado em visão. É carregar no corpo e na mente uma síntese rara: a de quem aprendeu a esperar uma carta chegar pelo correio e, ao mesmo tempo, pode agora enviar uma mensagem instantânea a qualquer lugar do mundo. É ser ponte entre gerações, tradutor entre ritmos, testemunha de que a humanidade pode mudar radicalmente — e nós podemos mudar com ela.>
A grande vantagem de ter 60 anos hoje é essa: ser protagonista do tempo, alguém que viveu a transição mais transformadora da história humana e que, ao lado dos jovens, segue pronto para continuar aprendendo, ensinando e construindo.>
Aos 60, somos ponte, farol e combustível: seguimos acendendo caminhos.>
Isaac Edington, 62 anos. Presidente da Saltur - Prefeitura de Salvador. Curador Agenda Bahia e Fórum ESG.>