A variedade de ambientes nas paisagens agrícolas favorece a diversidade de abelhas

Estudo também mostra como as áreas agrícolas também podem contribuir com a conservação das abelhas e com o serviço de polinização

Publicado em 11 de junho de 2024 às 10:56

Abelha
Abelha Crédito: Divulgação

Paisagens agrícolas mais heterogêneas, compostas por uma variedade de tipos de cultivos e de vegetação nativa, podem abrigar uma diversidade funcional de abelhas 266% maior do que paisagens homogêneas, dominadas por monocultura. Os resultados são de uma pesquisa liderada por Jeferson Gabriel da Encarnação Coutinho e Blandina Felipe Viana, da Universidade Federal da Bahia publicada na revista Frontiers in Ecology and Evolution.

Seus resultados ressaltam a importância da heterogeneidade da paisagem na manutenção de uma comunidade de abelhas diversa, além e consequentemente do serviço de polinização que essa comunidade pode prestar consequentemente.

A pesquisa foi conduzida no polo agrícola da Chapada Diamantina, Bahia, região com um mosaico de uma variedade de tipos de vegetação nativa e diferentes proporções de áreas dedicadas ao cultivo de fruteiras, café e hortaliças. Nesse cenário os pesquisadores avaliaram como a variedade de ambientes na paisagem agrícola contribuiu para a diversidade de abelhas, mais especificamente para a diversidade de funções ecológicas que a comunidade de abelhas pode desempenhar.

Abelhas são fundamentais para a polinização de aproximadamente 90% das espécies de plantas com flores e 75% das culturas agrícolas. Apesar de sua importância, a expansão da fronteira agrícola vem causando um declínio nas populações de abelhas em várias partes do mundo, afetando negativamente os ecossistemas e a produção agrícola.

As áreas agrícolas também podem ter um efeito positivo na diversidade funcional de abelhas, desde que não ocupem a maior porção da paisagem. As abelhas visitam as flores dos cultivos, como café, tomate, maçã, abóbora, ameixa, morango, entre outros presentes na região, em busca de néctar e pólen. Como consequência desse comportamento, ocorre o transporte de pólen entre as flores visitadas (polinização), necessário para a fecundação das flores e a formação de sementes e frutos. Esses cultivos florescem de forma massiva, mas por um curto período de tempo, geralmente entre uma e duas semanas, fazendo com que as abelhas necessitem de fontes complementares de alimento durante o resto do ano. Somado a isso, as abelhas necessitam de locais, substratos e materiais adequados para construção de seus ninhos, condições normalmente presentes apenas em áreas de vegetação nativa. Por isso a presença de tal vegetação é fundamental para a manutenção da diversidade de polinizadores e do serviço de polinização ao mesmo tempo que os recursos florais provenientes das áreas agrícolas também favorecem a manutenção das abelhas nas paisagens.

Esses resultados indicam uma oportunidade para o planejamento de uma agricultura mais sustentável, que permite conciliar a produção agrícola com a manutenção da diversidade de polinizadores. Para isso, é necessário o planejamento de paisagens multifuncionais que visem compensar o custo de oportunidade dos agricultores com o ganho de produtividade oriundo do serviço ecossistêmico prestado pelas abelhas.

* Eduardo Freitas Moreira é Biólogo, Mestre em Ecologia e Biomonitoramento e Doutor em Ecologia pela Universidade Federal da Bahia. Atualmente atua como pesquisador no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, associado ao Biota Síntese com apoio da FAPESP.

Com a colaboração de Pedro A. Duarte. Formado em Jornalismo pela FAAP, está cursando a pós-graduação em Jornalismo Científico pelo Labjor Unicamp. Faz estágio no Biota Síntese por meio da bolsa Mídia Ciência de Jornalismo Científico concedida pela FAPESP.