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Publicado em 12 de setembro de 2023 às 05:00
Segundo o último Relatório de Economia Bancária (REB) do Banco Central, o volume de cartões de crédito no Brasil é 190,8 milhões, quase o dobro da população economicamente ativa – 107,4 milhões. Ao mesmo tempo, o País tem 70 milhões de famílias endividadas. Esse quadro é consequência da concessão de crédito em larga escala.
A pandemia trouxe a queda no poder de compra das pessoas, enquanto a digitalização levou as instituições financeiras a surfar numa onda de oferta de crédito com custos atrativos. No entanto, elas começaram a oferecer com o olhar míope, pensando apenas na ampliação da carteira de clientes e no aumento dos limites deixando para depois as estratégias para torná-las perenes, rentáveis e sustentáveis.
E enquanto isso, o consumidor estava sendo inundado por diversas ofertas de cartões em diferentes instituições e, por uma questão de necessidade, passou a incorporar os limites para ganhar um fôlego em seu fluxo de caixa. E foi aí que o mercado perdeu a mão. Hoje, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 78,5% das famílias brasileiras estão endividadas, sendo este o índice mais elevado desde janeiro de 2010, quando iniciou a série histórica deste indicador.
Dado o cenário, girar o leme para colocar o barco na direção correta é o atual desafio. Exige-se que os modelos de aprovação de crédito, que contam com uma inteligência de análise bastante fundamentada, funcionem de forma precisa, cautelosa e com uma gama maior de variáveis, combinado com um eficiente processo e aplicabilidade em Ciência de Dados. As políticas de crédito devem estar sempre otimizadas para conceder recursos tanto para pessoas físicas quanto jurídicas, mas com especial atenção aos primeiros, para que o consumidor desfrute de uma jornada de crédito promissora, visando o longo prazo. Afinal, o brasileiro, em sua ampla maioria, não quer ser um devedor, ele foi direcionado à essa situação.
As empresas que fomentam o crédito para esse público precisam estar cercadas de parceiros que consigam ter uma visão macro da capacidade de pagamento de seus clientes, com a criação de scores específicos que permitam manter um alto e saudável nível de aprovação, de modo eficaz. Quem faz isso consegue estar na contramão do mercado, principalmente em uma fase na qual as instituições financeiras estão mais comedidas por conta do encarecimento dos recursos como resultado da inflação e da alta taxa básica de juros – que em um período de 18 meses saltou de 2% para 13,75% ao ano.
Se o objetivo for promover a inclusão financeira, é preciso avaliar o cliente sob uma outra ótica, pois ainda há um grupo considerável de desbancarizados e a solução pode estar na busca por outros caminhos para dispor o crédito e controlar o limite ofertado.
A diferença entre o remédio e o veneno está na dose. Pessoas e instituições precisam estar atentas a isso, caso contrário, o Brasil não vai sair dessa tendência crescente de endividamento e inadimplência.
Tharik Moura é diretor estratégico da DM, grupo de serviços financeiros especializado em gestão de crédito