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Mais clássico que BaxVi é homem que diz que ama mulher, mas só admira outros homens

É assim ser mulher em 2025 no Brasil: ter que escolher entre pesar o clima reclamando da bizarrice do comentário ou naturalizar viver no meio de gente estúpida fingindo que não ouviu

  • M
  • Mariana Paiva

Publicado em 12 de julho de 2025 às 12:23

Passou mulher na rua, na TV ou na linha do tempo da rede social, senta, que evém comentário. A coisa mais rara é que seja pra falar de competência; o mais normal é que seja sobre bunda, peito, se emagreceu, se engordou, se a roupa tá inadequada, se tá gostosa ou não. É assim ser mulher em 2025 no Brasil: ter que escolher entre pesar o clima reclamando da bizarrice do comentário ou naturalizar viver no meio de gente estúpida fingindo que não ouviu. Ou a terceira alternativa, que é às vezes brigar, e, em outras, deixar pra lá. Um pouco de droga, um pouco de salada, como diz o ditado.

Quando a gente lê as notícias ou os comentários delas, parece até que alguma alma sebosa abriu as tampas dos bueiros do mundo e esqueceu de fechar. É ódio demais às mulheres por metro quadrado, às vezes mais, às vezes menos disfarçado, mas ele está sempre lá, esse bicho que a gente convencionou chamar de misoginia. Porque é melhor dar nome às coisas com as quais vivemos de perto.

Num país em que 63% das escolas não têm bibliotecas e os meninos são educados tantas vezes pelo medo que os pais sentem de que eles sejam gays na vida adulta, a possibilidade de educação e a empatia diminuem, e a misoginia cresce. Tanta gente pequena entregue aos jogos e aos chats, aos desafios, aos ambientes virtuais que, sem supervisão, entregam a chave da educação de mundo ao algoritmo. Ao vídeo que vem a seguir, seja ele qual for. Boa sorte pra nós: apertem os cintos, o piloto sumiu, como diria um filme.

Anos depois, os comentários. Os donos dos controles remotos sentados diante dos computadores, das telas de 60 polegadas, dos cinemas ou mesmo da mesa de um restaurante e só conseguem olhar para uma mulher e ver um corpo. Nada mais. Não à toa os salões de beleza estão cheios de mulheres que chegam reclamando que queriam cortar o cabelo mas que o marido “não gosta”. Ou de homens absolutamente malamanhados que se acham no direito de dizer o que suas companheiras devem comer para permanecer “em forma” (na forma que eles acham que deve ser a ideal). Deve realmente ser muito difícil fazer tanta força pra gostar de mulher. Ou fingir que gosta.

Um teste bom é passear num sábado num supermercado: ali é o melhor ambiente pra ver. Cinco minutos andando pelas prateleiras e o que você bem vê é homem bradando com mulher, sem vergonha de fazer escândalo (por que é que mulher é que é chamada de escandalosa, quando quem dá show é sempre um homem?) por conta de um produto, de cinco minutos a mais ou de qualquer outra coisa que não tenha saído como ele queria. Agora pegue esse mesmo homem e bote ele no mercado com cinco brothers durante três horas e me diga se parece a mesma pessoa. Não parece. É outra.

Esse homem que enche a boca pra dizer que adora mulher, ele faz o que? Lê livros escritos por mulheres, assiste filmes dirigidos por mulheres, assiste futebol de mulheres, esse grande fã do gênero? Ou só se interessa mesmo por ser um grande analista de corpos femininos, e guarda o afeto e o bom humor pros momentos com os amigos? Mais clássico que BaxVi é homem que diz que ama mulher mas só admira outros homens.

Mariana Paiva é escritora, jornalista, doutora pela Unicamp, colunista do Correio* e idealizadora da Awá Cultura e Gente