Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Publicado em 17 de novembro de 2025 às 12:31
Dizem por aí que a matemática é exata. Aliás, provavelmente desde o início de sua descoberta, ou invenção, se ouve, se lê e se diz sobre da necessidade do uso de convenções.>
Há um probleminha que vez por outra surge nas páginas de jornais, nas redes sociais e no ENEM. Trata-se de obter o resultado de 6/2x(1+2).>
Tal conta é razoavelmente simples, e fica o convite para o(a) leitor(a) tentar resolvê-la antes de continuar a leitura.>
A solução depende do conhecimento da ordem das operações. Em matemática, é necessário conhecer a convenção que indica a ordem pela qual devem ser realizadas as conhecidas operações de soma (ou diferença), multiplicação, divisão e expoentes (incluindo a extração de raízes), abrangendo aquelas que estão entre parênteses (), colchetes [] ou chaves {}, denominadas de agrupamentos. Em inglês e português, tal procedimento é denominado PEMDAS: Parênteses, Expoentes, Multiplicação e Divisão (da esquerda para a direita), Adição e Subtração (da esquerda para a direita).>
Sim, as regras matemáticas importam. Entre elas, há as ditas convenções, que servem para determinar o resultado de expressões tão simples como 2+3x5.>
Sem a adoção de uma convenção, existem duas soluções possíveis para 2+3x5. Na primeira, simplesmente soma-se dois e três, multiplicando o resultado por cinco. Na segunda, multiplica-se três e cinco, e o resultado é acrescido de dois. Em matemática, a convenção adotada dá preferência a operação de multiplicação, que precede a soma. Assim, o resultado seria a soma entre dois e quinze, resultando em dezessete. Tal procedimento serve para evitar uma ambiguidade de resultados.>
Qualquer expressão numérica depende da ordem pelo qual operações são efetuadas. Foi estabelecido que primeiro são resolvidos os argumentos, ou seja, tudo que estiver entre parêntesis, colchetes e chaves, e da esquerda para a direita, seguidas de operações de multiplicação e divisão, e finalmente as de soma e subtração. Desta forma, referente à conta proposta inicialmente, deve-se calcular em primeiro lugar a soma envolvendo um e dois, e depois as operações de divisão e multiplicação (pois ambas têm igual prioridade). Assim, têm-se que 6/2x(1+2) = 6/2x3 = 3x3 = 9.>
É importante ressaltar que o outro resultado possível, um, é tambem satisfatório. No entanto, este em particular não segue a convenção, e deve ser, portanto, descartado.>
Historicamente, discussões sobre a precedência de multiplicação pela soma existem ao menos desde o século XVI. Apenas há pouco mais de um século as preocupações sobre a abordagem que se tornou PEMDAS passaram a serem descritas em livros didáticos. Num deles, da lavra dos matemáticos americanos Webster Wells (1851 - 1916) e Walter Wilson Hart (1879 - 1977), está estabelecido o seguinte: “as operações indicadas devem ser realizadas na seguinte ordem: primeiro, todas as multiplicações e divisões da esquerda para a direita; depois, todas as adições e subtrações da esquerda para a direita” (“indicated operations are to be performed in the following order: first, all multiplications and divisions in their order from left to right; then all additions and subtractions from left to right”).1>
Alguém pode observar que a adoção de tais convenções não é algo comum. É possível discordar, argumentando que em muitos jogos há diversas convenções. Por exemplo, para iniciar um jogo de dominó em geral inicia-se com quem estiver com o maior naipe, a pedra 6-6 ou seis-seis. Na ausência desta, usa-se a 5-5 ou cinco-cinco, e assim por diante. Isto seria o procedimento equivalente ao de começar a resolver expressões matemáticas com os ditos argumentos (parênteses, colchetes ou chaves). Algo similar no jogo de damas é que cada peça deve sempre avançar para frente ou na diagonal num tabuleiro, com exceção daquelas transformadas em damas, onde o movimento pode ser em qualquer direção.>
Pode-se tambem citar enquanto exemplo de similaridade as ditas convenções gramaticais, que tratam de regras e padrões que regem a escrita correta em qualquer língua, abrangendo ortografia, pontuação, acentuação e concordâncias verbais, entre outras. Todas elas garantem a uniformidade e a clareza na comunicação escrita, embora possam ser flexibilizadas em escritas criativas, como na poesia. Não à toa, tambem são consideradas sentenças, que nada mais são do que enunciados completos que expressam uma ideia e possuem estruturas definidas, com sujeito e predicado. No exemplo “Luiz adora barco”, o sujeito, escrito em maiúsculo por representar um nome próprio, precede o verbo, que precede o objeto. Faltou a marcação final da sentença, que poderia ser um ponto ou uma exclamação.>
Enquanto exercício, propõe-se calcular os possíveis cômputos da expressão numérica 1+2x3. Na primeira opção, simplesmente soma-se um e dois, multiplicando o resultado por três. Na segunda, multiplica-se dois e três, e o resultado é acrescido da unidade. Há, portanto, dois resultados, mas apenas um é considerado seguindo a precedência de uma operação sobre a outra, evitando assim duplicidade.>
Em suma, sim, ordens importam no reino da matemática. Dadas atribuições ou prioridades, o resultado de uma sequência de operações é único e, portanto, sem dúvidas e sem ambiguidade, seguindo as mais antigas práticas desenvolvidas pelos pioneiros(as) matemáticos(as).>
Marcio Luis Ferreira Nascimento é professor da Escola Politécnica, Departamento de Engenharia Química da UFBA e pesquisador do Senai-Cimatec>