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Publicado em 16 de janeiro de 2024 às 05:00
O relançamento do projetado VLT do Subúrbio, adotando em definitivo o veículo leve sobre trilhos, destinado a substituir o antigo trem do Subúrbio, trouxe, em boa hora, não apenas a visão de um modal de transporte, mas, conjugada, uma preocupação com o desenvolvimento urbano da área atendida, que inclui, como projeto emblemático, o retrofit do antigo complexo industrial da Fábrica São Braz, em Plataforma. >
O subúrbio de Salvador constitui área privilegiada, localizada à beira-mar, ao longo da costa da Baía de Todos os Santos. Trata-se de uma faixa de terra estreita, tendo a ocupação, predominantemente desordenada, subido a encosta da cidade.>
Embora Paripe, na extremidade norte do chamado Subúrbio Ferroviário, tenha sido, no passado, zona de veraneio de moradores mais abastados de Salvador, toda a região terminou por assumir um perfil popular, a partir da intensa ocupação pela população migrante, formada principalmente pelos refugiados das secas que, recorrentemente, assolam o nosso sofrido Semiárido. >
Com percurso previsto, na versão anterior, até o bairro do Comércio, permitindo o acesso à Cidade Baixa, e integração com o metrô, à altura da Soledade, o VLT parece ter sido limitado, agora, à substituição pura e simples do antigo trem, atendendo aos reclamos da população, que ficou sem o seu tradicional meio de transporte.>
A melhoria da mobilidade no Subúrbio é uma necessidade antiga. Em meados dos anos 1970, quando da elaboração do Plandurb, na gestão do prefeito Jorge Hage, capitaneamos a implantação de uma linha de integração trem-ônibus, que ligava Paripe ao Campo Grande, com veículos dotados de ar-condicionado e a mesma tarifa do ônibus, subsidiada pela Prefeitura, atendendo aos moradores do Subúrbio e usuários em geral. Posteriormente esse serviço foi desativado, em face da tradicional descontinuidade administrativa que marca as nossas gestões públicas, particularmente em relação ao planejamento urbano.>
Em outro momento, como secretário de Planejamento do Estado, a quem estava vinculada a Conder, então Companhia de Desenvolvimento do Recôncavo, tive a oportunidade de modernizar os terminais de embarque e o sistema operacional da travessia Ribeira-Plataforma, valorizando o uso do modal hidroviário em nossa cidade. Esse continua ativo. >
Guardo, portanto, comigo, forte vinculação com a área, uma das mais carentes de Salvador, razão pela qual permito-me, no presente, duas sugestões: >
Uma, refere-se à visão multifuncional dos projetos, que parece ser sempre a melhor alternativa para otimizar infraestruturas, principalmente no ambiente urbano. Como o projeto executivo do VLT encontra-se ainda em fase de desenvolvimento, é indispensável considerar a alternativa do acesso ferroviário, por bitola larga, ao Porto de Salvador, visando a operação noturna, com trens cargueiros, destinados principalmente à movimentação de contêineres. Numa cidade reconhecidamente pobre, da qual a indústria foi afastada, é de fundamental importância preservar e potencializar as poucas opções econômicas existentes, tão relevantes para a geração de trabalho e renda para a população.>
Outra, de caráter cultural. É que a denominação “Parque das Ruínas” atribuída ao equipamento a ser instalado em Plataforma, meritório sob todos os aspectos, parece, no entanto, infeliz, porque projeta uma visão negativa da área. Porque não “Parque São Braz”, para elevar a autoestima local e preservar a memória do passado arquitetônico e industrial da Península de Itapagipe e do Subúrbio?>
Em tempo: do outro lado da Enseada dos Tainheiros, na Ribeira, um outro antigo complexo industrial, o da Fábrica de Linhos Fátima, atualmente sede do projeto Fábrica Cultural, saudável iniciativa da artista Margareth Menezes, atual ministra da Cultura, também espera por sua recuperação.>
Waldeck Ornélas é especialista em planejamento urbano-regional. Autor de Cidades e Municípios: gestão e planejamento>