Precisamos falar sobre planejamento familiar

No Brasil, a gravidez não planejada tem como principais causas o baixo acesso a métodos contraceptivos seguros e modernos

Publicado em 18 de abril de 2024 às 05:00

Planejamento reprodutivo é questão de saúde pública. E, o acesso a métodos contraceptivos eficazes e adequados às necessidades de cada uma das mulheres deveria ser prioridade das agendas. É urgente, mas, então, por que não falamos mais sobre esse tema? E por que as políticas públicas voltadas para evitar essas gravidezes não planejadas ainda caminham a passos tão lentos no Brasil, onde, em média, 55% dos nascimentos não são programados?

Segundo o Fundo da População da ONU no Brasil (UNFPA), a gravidez não planejada tem como principais causas o baixo acesso a métodos contraceptivos seguros e modernos, com apenas 58% das brasileiras usando-os continuamente, conforme indicado por um estudo da Organon; e a incapacidade de recusar relações sexuais, seja por questões culturais ou por diferentes graus de violência.

Ao discutir planejamento familiar, é essencial mencionar os métodos contraceptivos reversíveis de longa ação (LARCs, do inglês), pois dispensam, após o período de adaptação, a presença constante na unidade de saúde. No Brasil, temos o dispositivo intrauterino (DIU) com cobre e o liberador de levonorgestrel, e o implante subdérmico de etonogestrel, todos com alta taxa de eficácia, totalmente reversíveis, poucas contraindicações e efeitos adversos. Em regiões de difícil acesso, esses métodos são cruciais para assegurar os direitos sexuais e reprodutivos de mulheres e adolescentes.

Para entender a grave lacuna, segundo o IBGE, a Bahia conta com 7,3 milhões de mulheres, 53% do total de habitantes do estado, mas apenas 5 mil receberam LARCs pelo SUS nos últimos três anos, de acordo com o DATASUS. Sobre o implante de etonogestrel, a prefeitura de Salvador conta há um ano com o projeto Dandara, que implantou o método em 226 mulheres até março de 2024. A situação piora quando falamos em gravidez na adolescência. O estado registrou, nos últimos 10 anos, 403 mil partos de meninas entre 10 e 19 anos, 23% do total na Bahia nesse período.

Entre os desafios, podemos destacar a burocracia para o acesso aos serviços de planejamento familiar, além da falta de capacitação de profissionais de saúde para orientação, inserção e o manejo de eventos adversos, e os mitos propagados pela população que causam medo e atrapalham a adesão.

Esses números são tristes e cruéis. O estado que tem a capital do Brasil com maior proporção populacional de mulheres (54,4%) também enfrenta altos índices de mortalidade materna, com uma taxa nos últimos 10 anos de 64 óbitos para cada 100 mil nascidos vivos, acima da média nacional de 57,9.

É fundamental oferecer mais atenção, cuidado, dignidade e respeito. Elas merecem decidir sobre seus futuros. Todas nós merecemos.