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Publicado em 7 de outubro de 2025 às 05:00
Com a democratização do acesso à internet, os livros físicos foram substituídos por PDFs, e o ato de pesquisar passou a ser menos “braçal”. Como toda mudança, esta também gerou resistência em algumas pessoas. Uma nova era na comunicação foi imposta, e apesar de ainda ser algo para poucos, a internet foi apresentada como resposta a perguntas que ainda nem tínhamos feito. Com o tempo, a internet chegou à casa de milhares de brasileiros, tornando-se uma ferramenta de trabalho, lazer e, sobretudo, de estudo. Escolas passaram a contar com laboratórios de informática e os mais diversos cursos de computação tomaram as cidades. As apresentações em cartazes foram substituídas por slides, os trabalhos escritos já não precisavam ser à mão, e sites de busca online tornaram-se uma espécie de muleta para todas as ocupações. >
Chega, então, a era da inteligência artificial. As falácias sobre esta temática são muitas, mas todas parecem carregar o medo da perda. Perda de empregos, perda da ética, perda intelectual. É comum ver postagens em redes sociais defendendo o uso do Google ao invés do ChatGPT, porém, atualmente, ambos fazem suas buscas no mesmo campo e são capazes de fornecer fontes. Então fica o questionamento: é realmente tão diferente assim ou esta é só mais uma resistência à mudança? Até que ponto essa resistência não é conservadora, tendo em vista que o conservadorismo é, justamente, uma prática que visa manter o status quo? Seria a IA a culpada por problemas sociais existentes mesmo antes de sua criação e propagação?>
Esta não é uma defesa ao uso da IA, até porque não acredito que esta seja a discussão que precisamos ter. A mudança sempre virá acompanhada da resistência, essa é uma marca da humanidade. Em seu livro Innovation and Its Enemies, o professor Calestous Juma defende que não é a novidade que assusta as pessoas, mas a perda que ela representa. Vivemos em um período da história de mudanças bastante rápidas, com isso, o medo da perda cresce com as mesmas proporções. Mas a mudança é inevitável.>
A inteligência artificial já é um fato, e ela veio para ficar. O que precisamos discutir agora não é se devemos utilizá-la ou não, mas como iremos regulamentá-la, quais políticas precisam ser revistas para que o seu uso não infrinja direitos ou ultrapasse limites éticos, quais políticas novas precisam ser elaboradas. Precisamos discutir como vamos incorporá-la no dia a dia da escola, mas entendendo que ela já está lá. Precisamos discutir como garantir que esta nova ferramenta não substitua mão de obra humana, e como limitar o acesso de grandes companhias — essas que já têm acesso demais às nossas vidas —, além do mais importante: como garantir que essa inovação não acarrete perdas àqueles que se sentem ameaçados por sua existência.>
Gabriel Dias dos Santos é Mestrando PGEDU - FACED/UFBA. Email: contato.gds@outlook.com>