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Cérebros podres; big techs gordas

Na era do extrativismo de dados e da tecnopolítica, manter os usuários mais tempo on line significa fazer mais dinheiro

Publicado em 1 de setembro de 2025 às 05:00

Com práticas saudáveis, é possível minimizar os impactos do brain rot e promover equilíbrio mental (Imagem: eamesBot  | Shutterstock)
Em 2024: brain rot, em inglês, ou podridão cerebral, em português, foi escolhida a “palavra do ano”. Crédito: Imagem: eamesBot | Shutterstock

Todo ano, o dicionário Oxford escolhe uma palavra de língua inglesa como palavra do ano. A palavra escolhida é geralmente aquela que melhor representa o clima, as preocupações ou a cultura do ano em questão, refletindo as mudanças e tendências da língua. Em 2024: brain rot, em inglês, ou podridão cerebral, em português, foi escolhida a “palavra do ano”.

De acordo com o dicionário a expressão descreve o dano mental atribuído ao excesso de uso de mídias digitais para consumir conteúdo trivial e irrelevante. Como disse a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, “a espécie mais promissora do planeta, aquela que carrega em seu cérebro o maior número de neurônios corticais capazes de encontrar padrões, formar associações e aprender com o passado para mudar o futuro, quem diria, resolveu usar sua capacidade cerebral para gastar tempo rolando telas”.

Na era do extrativismo de dados e da tecnopolítica, manter os usuários mais tempo on line significa coletar mais informações, fazendo mais dinheiro entrar no caixa das empresas. Por isso as plataformas são projetadas para nos manter o máximo de tempo grudados nas telas.

É na infância e adolescência que as consequências do uso de tela são mais preocupantes com prejuízos tanto ao aprendizado quanto à saúde física e mental, já confirmados por estudos que elencam o aumento de depressão, ansiedade, automutilação e suicídio entre crianças e jovens, além da redução do desempenho escolar. Uma a cada três crianças já sofre de miopia no mundo, dado alarmante que acendeu um alerta na Organização Mundial de Saúde.

A limitação do acesso a celulares nas escolas passou a ser um caminho percorrido por diferentes países, inclusive recentemente o Brasil, recomendada por um relatório da Unesco, que utilizou evidências científicas para justificar a medida. A escolha mostrou-se positiva com relatos de melhora na concentração dos alunos, nas notas e na interação entre os estudantes.

Nada novo para alguns. As elites do Vale do Silício afastam seus filhos das telas pois sabem que os benefícios na educação infantil são limitados enquanto o risco de dependência é alto. Bill Gates e Steve Jobs só presentearam seus filhos com smartphones aos 14 anos.

A retirada do celular das mãos de crianças e jovens nas escolas não significa a ausência de educação sobre a relação com as mídias, pelo contrário, é fundamental pensar na relação saudável e crítica com os aparelhos eletrônicos e seus usos, e com as mídias digitais. Mas nada adiantará se em casa pais e cuidadores não desgrudam das telas. A criação de vinculo, afeto e intimidade passa muito longe da tela do celular.

Infelizmente alguns pais vão mais longe: se aproveitam dos algoritmos e estimulam a exposição e adultização de crianças e jovens para lucrar, mesmo colocando seus filhos ao alcance de toda sorte de criminosos em especial pedófilos e arriscando impactos na saúde mental duradouros.

Na mesma equação temos cérebros apodrecendo, relações interpessoais desaparecendo e big techs engordando.

André Fraga é doutor em ciências pela USP e vereador em Salvador.