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Cesar Romero
Publicado em 4 de julho de 2022 às 06:10
- Atualizado há 2 anos
Quando um artista visual vai produzir um trabalho, primeiro ele pensa. Pensar é ter opções. Esse ato é de profunda responsabilidade, e pode consultar seu estoque de ideações ou buscar um assunto. Temos artistas que têm sua digital e vão buscar aprofundamento, revisão em seu fazer. Outros buscam estímulos externos, para torná-los internos e formatar seu trabalho. O criar vem da vida instintiva profunda. O inconsciente é soberano. >
Então, estamos envolvidos numa teia complexa, desafiadora, que necessita de reflexões. O tema é um assunto, que não é o principal apenas busca esclarecer sobre determinada argumentação e tornar para o artista mais fácil nas metamorfoses. Alfredo Volpi (fotos), considerado um dos melhores artistas brasileiros, pintou casario, que intitulou de Fachadas, e, com as Bandeirinhas, formou quase toda sua obra. >
As fachadas (casario) cobriam toda a tela em superposições explorando as formas, as composições com cores de grande impacto visual, dando uma nova versão à paisagem urbana. Muitos críticos de arte consideram as fachadas o melhor momento na obra de Volpi, seu virtuosismo criativo. >
O tema é pretexto. O artista necessariamente criador vive de constantes cobranças internas e externas, aprimorando seu trabalho, melhorando sua fatura, crescendo em qualidade e a cada ano surpreende com maior inventiva. Sempre encontramos impasses no processo criativo e, nos momentos de “crise”, convém ao artista parar e refletir sobre este momento. Qual a origem? O que faltou ou falta? São ingerências internas ou externas? Quais os medos? Repetindo, pensar é ter opções. >
O recomeço pode ser uma grande alternativa. >
Não existe inspiração: inspiração é coisa de amador. Existem, sim, melhores e piores momentos, que acompanham a vida de todo ser humano. E é momento que define a evolução de uma obra. “Crises” são momentos complicados que, uma hora ou outra, todos temos que enfrentar e é nesse embate que surgem saídas significativas. Os trabalhos prontos, acabados, têm que ter o mesmo DNA, para não parecerem improvisos, achados ocasionais que vão se diluir, mas sim desdobramentos de uma sequência lógica, fiel ao pensamento do artista, uma matéria conclusiva. Quando o artista quiser mudar de fase, de intensões? Nada mais natural e estimulante. >
Liberdade de criação deve ser para o artista a motivação maior, um propósito sólido. Na realidade, é quase um recomeço que conta com a experiência adquirida anteriormente, mas tem que ser acreditável para não parecer fuga momentânea por falta de opções. A nova caminhada, com outras referências e processos, pode ser saída extraordinária. >