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Dom Sergio da Rocha
Publicado em 27 de junho de 2022 às 05:06
- Atualizado há 2 anos
As festas juninas estão entre as festas mais populares em todo o Brasil, sendo em algumas localidades a maior festa do ano, muito esperada e preparada. Apesar das transformações ocorridas no contexto sociocultural, com mudanças rápidas e profundas, as festas juninas permanecem como um dado cultural e religioso de especial importância. >
Embora de origens europeias, principalmente portuguesas, elas foram abrasileiradas, incorporando alguns traços indígenas e africanos. Preservando suas características rurais, especialmente caipiras, as festas juninas figuram nos cenários urbanos, de norte a sul, com aspectos regionais próprios em função do clima e das tradições locais que se refletem nas comidas e músicas típicas. Nas festas juninas, parece haver uma volta saudosa ao rural que permanece no coração das pessoas e das cidades, constatando-se em grandes cidades, como Salvador, o retorno ao interior para visitar familiares e amigos, para rever a terra onde nasceu e foi criado.>
A relação com a terra, com a roça e as colheitas persistem. De origem religiosa católica, as festas para homenagear Santo Antônio, São João e São Pedro, reúnem pessoas de diferentes credos, tornando-se sempre mais patrimônio de todos. As festas que eram originalmente “joaninas”, alargaram o leque devocional incluindo harmoniosamente os outros santos, mas sem deixar de dar atenção especial a São João Batista, que continua a dar o seu nome às fogueiras e aos festejos, de tal modo que tudo parece virar festa de São João. O tradicional mastro em honra a Santo Antônio, a São João e a São Pedro, continua a ser levantado, embora já nem sempre como antigamente, certamente reflexo das mudanças ocorridas no cenário religioso brasileiro.>
Apesar das diferenças típicas de cada região, permanecem os elementos fundamentais que caracterizam estas festas tão queridas em todo o país, como a decoração com bandeirinhas e balões, as fogueiras e os fogos, as roupas e os chapéus, as músicas e as danças, as comidas e as bebidas. Permanecem, acima de tudo, a alegria, a criatividade e a fé. >
Num mundo necessitado de encontro e convivência fraterna, é motivo de alegria e de esperança ver tantas pessoas de diferentes idades e condições sociais encontrando-se e alegrando-se nas festas juninas, ocasião privilegiada para o reencontro de familiares e amigos, para a alegria e a partilha, principalmente depois de um período tão largo de distanciamento social causado pelas fases mais duras da pandemia. Festa junina é festa da comunidade!>
O reconhecimento do rico significado cultural e religioso e da beleza das festas juninas não implica no esquecimento de suas ambiguidades, como a violência, a desigualdade social, a mercantilização e o enfraquecimento do seu sentido religioso. Contudo, para superar as contradições existentes, é preciso conhecer, preservar e vivenciar as festas juninas. >
Dom Sergio da Rocha é Cardeal Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil>
Opiniõs e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade dos autores>