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Publicado em 6 de julho de 2025 às 05:00
“Cidadão pacato e ordeiro que sou” – introdução de uma notícia de jornal do grande repórter de polícia Domingos Souza, o Domingão, em que ele era o autor da nota e “vítima” ao mesmo tempo, ao justificar a aplicação de um singelo rabo-de-arraia em um desafeto –; e sempre pautado por João 8:32 (recebam, hereges!) – “e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” – é que escrevo esta resenha crítica sobre “Tá Pensando que Tudo É Futebol? – Reminiscências e Contradições”, a segunda dança-de-rato literária do jornalista (sic) Franciel Cruz. >
O (sic) é porque o grande jornalista e rábula José Rodrigues de Miranda, o Irecê, sentenciava: “Franciel, você sabe o que é um lead? Não? Então, você é uma fraude”. >
Mas, deixemos de coisa e cuidemos da vida, como diria o sobralense Belchior. O novo livro sucede a “Ingresia: Chibanças e Seiscentos Demônhos”, lançado em 2018, e enorme sucesso de público, com cerca de 37 exemplares vendidos. Um autêntico best-seller no Nordeste de Amaralina, onde o autor se homiziava antes de tomar o rumo de Itapuã. Não se sabe por que razão, o jornalista JP Costa agora é quem habita, como locatário, a mansarda nordestilina. >
São 49 crônicas sobre o futebol, mas não necessariamente sobre o jogo da bola, que encantaram escritores-jornalistas de alto coturno na Bahia, a exemplo de Fernando Vita e Paolo Marconi. Atribuo a ambos uma certa vã esperança, natural da idade provecta, de quem ainda sonha com a vinda do “escritor-salvador” – um novo bebê, ainda que reborn, de sobrenome Amado, Llosa ou García Márquez. >
Leia a mensagem que Fernando Vita teve a pachorra de me enviar, pelo WhatsApp: “Nexthor, malamanhado da minha estima, livro do Franciel segue viagem, comigo e Gal, para Portugal. Já estou em deleite, porque o Seu Françuel é um puta de um escritor: irrequieto, genial, desestruturado, amalacucado, competentemente sátiro, de forma que não carece de vosmecê me devolver os trezentos contos que paguei pelo ‘the book on te hands’. Franciel é realmente phoda”. >
Realmente, a senilidade é que é um problema gravíssimo. Quanto aos “trezentos contos”, é fake. Gastei R$ 50 e nunca fui ressarcido. Joguei para a coluna “a fundo perdido”, porque o filho de Todavia deve estar passando um certo perrengue financeiro ao não contar mais com os jetons da Corte de Contas. >
O livro, segundo o próprio autor, é uma “espécie de retomada de uma partida que foi interrompida”, já que os textos originais foram todos perdidos em um computador que deu pau. (Lá ele, três vezes!!!). “Então, eu tive que fazer aquele trabalho de Sísifo (N.R.: não sabe nem quem é; provavelmente acha que é um dos atacantes do Barradão, especialista em não fazer gols) de chamar cada um dos textos das pessoas, das histórias, de volta às minhas memórias e reconstituí-las”, explica o próprio Seu Françuel. >
Culpa pelo desastre cibernético a sua briosa equipe – embora diga, em entrevistas e podcasts, que faça tudo sozinho: cruza, cabeceia e ainda salva o gol –, encabeçada por seu agente literário e gerente de vendas Alex Tarta. Então, caros leitores, a obra é um pastiche de outra obra que nunca nos será revelada, porque a recuperação do HD de Franciel é seriamente prejudicada pelas canjebrinas que toma e pelo uso que faz de outras ervas um tanto daninhas. >
Dedica várias páginas ao time de Canabrava, mas não larga o osso do Esporte Clube Bahia, numa explícita manifestação de vítima que se apaixona pelo seu algoz. É a Síndrome de Estocolmo (Stockholmssyndromet, receba em sueco, chibungo – que me deu um a zero, em 26 de maio de 2023, no auditório da Facom, a convite do professor Washington Souza Filho, para um debate sobre o Ba-Vi, e recitou Nietzsche, em alemão, para me intimidar). >
Cheguei ao final das 222 páginas das ‘Reminiscências e Contradições’ de Franciel com mais contradições que convicções. Será que ele é mesmo a fraude vaticinada por Irecê ou o gênio inspirado pelos “seiscentos demônhos”, como prenuncia Vita? Se André Dantas desconfia da intimidade com a bola do “Butragueño do Nordeste de Amaralina”, meu ceticismo ainda é maior com a pretensa intimidade dele com as pretinhas do teclado. >
Acho, sim, que o pai dele foi pouco carrancista ao não intensificar-lhe no lombo umas boas massagens de cipó-caboclo, acompanhadas de sais esfoliantes de urtiga e cansanção, limitando-lhe o espaço às quatro linhas do portentoso Estádio Joviniano Dourado Lopes, o Campão de Irecê. Mas, não tão esotérico assim, veio nos atormentar na capital da Bahia, disputando as pelejas do Babaconha e nos fazendo suportá-lo, assim como ao seu alter ego, a Moça do Shortinho Gera-Samba.>
Dada a azáfama de Alex Tarta em envelopar dezenas de encomendas com a obra literária recém-lançada, em uma espécie de Amazon do dendê, estaremos, sim, condenados, como leitores do infortúnio, a ter que aturar a chibança e outros livros de Franciel Cruz. E é o próprio quem não titubeia em confessar as suas intenções malévolas de lesar o futebol, a literatura e, sobretudo, os leitores. Como “la mano de Dios”, de Maradona, na página 222, cita Eurípedes (N.R.: ele deve achar que é algum beque de Canabrava) para disfarçar os seus instintos: “Os deuses criam-nos muitas surpresas: o esperado não se cumpre, e ao inesperado um deus abre o caminho.” Ao que emenda: “o meu é tentar ludibriar vocês, contando historietas para tentar vender livros”. Receeeeba, rebanho de sacanas!>
Para o bem ou para o mal, já que remédio não tem, invoco palavras da salvação redemptoris: “Valei-nos, meus culhões de São Lipovetsky!”. (chupa, Franciel Cruz!).>
Nestor Mendes Jr. , jornalista, é autor de “Bahêa, Minha Paixão – Primeiro Campeão do Brasil”.>