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Editorial
Publicado em 5 de setembro de 2025 às 05:00
A postura do governador petista Jerônimo Rodrigues em relação ao relatório da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) sobre a Ponte Salvador-Itaparica é, no mínimo, preocupante. Ao classificar como “fake news” um documento elaborado por um instituto de reconhecida seriedade e contratado pelo próprio governo da Bahia, o chefe do Executivo estadual não apenas desrespeita o trabalho técnico contratado a peso de ouro, como transmite uma mensagem perigosa: a de que qualquer crítica ou alerta pode ser descartado com a desqualificação mais rasa possível. >
O contrato com a Fipe, firmado em dezembro de 2024 por quase R$ 5 milhões, tinha justamente a missão de oferecer consultoria especializada e acompanhamento do projeto. O relatório de acompanhamento apontou problemas objetivos, como a ausência de um cronograma de implementação, a não apresentação de um novo planejamento dentro do prazo estabelecido e incongruências nas poligonais geográficas essenciais à execução da obra. >
Nada disso soa como “especulação”. São fatos técnicos, devidamente registrados, que merecem ser enfrentados com seriedade - não com ataques. É claro que um governante pode discordar de interpretações, questionar análises ou até contestar conclusões. Mas tachar de “mentira” um estudo que ele mesmo solicitou é um contrassenso. Pior: enfraquece a credibilidade de todo o processo de acompanhamento de uma obra que, por si só, já acumula atrasos, mudanças de cronograma e desconfiança popular.>
A Ponte Salvador-Itaparica nasceu como promessa de Jaques Wagner em 2009, atravessou os dois mandatos de Rui Costa e agora se arrasta no governo de Jerônimo. Mais de uma década se passou, milhões já foram anunciados e a obra permanece como miragem no horizonte. Nesse período, o projeto tem sido oneroso, demorado e, sobretudo, marcado pela falta de transparência.>
Chamar de “fake” um relatório técnico não apaga os erros do passado nem os problemas atuais. Ao contrário: reforça a sensação de que o governo prefere desviar o foco da realidade em vez de enfrentá-la. O que a Bahia espera é clareza, responsabilidade e compromisso efetivo com uma obra que já virou símbolo de promessas não cumpridas. Até aqui, infelizmente, o processo de construção da ponte tem acumulado mais tropeços do que avanços.>