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Editorial
Publicado em 13 de setembro de 2024 às 05:00
O Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB) é um dos maiores tesouros culturais do estado e abriga documentos raros e peças históricas que preservam a memória de séculos. No entanto, esse patrimônio encontra-se ameaçado, resultado direto da omissão do governo estadual, que retirou um apoio financeiro à instituição. O recente corte de R$ 700 mil, determinado pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult), é um verdadeiro atentado contra a preservação da história e da cultura baiana. >
Localizado em um icônico casarão na avenida Joana Angélica, em Nazaré, o IGHB guarda preciosidades como manuscritos de Castro Alves e cartas assinadas por figuras históricas como Joana Angélica e Antônio Conselheiro. Mas a manutenção desse acervo, que inclui jornais de 1858 e as primeiras edições de periódicos locais, está em risco. A decisão de retirar o instituto do Programa de Ações Contínuas em Instituições Culturais e cortar 85% de seu orçamento pode ter consequências irreversíveis.>
O presidente do IGHB, Joaci Góes, manifestou insatisfação com a decisão do governo e a considerou absurda e insustentável. Ele afirmou que a justificativa apresentada pela Secretaria de Cultura, que questiona a adequação do instituto à política estadual, é vaga e subjetiva. O advogado da instituição, Ricardo Nogueira, acrescentou que o corte de verba, além de ser injusto, viola a Lei nº 6.575, de 1994, que estabelece o dever do governo estadual de apoiar as atividades do IGHB.>
O impacto desses cortes é devastador. Obras importantes do acervo, algumas sem restauração há mais de 20 anos, correm o risco de não sobreviver sem a manutenção necessária. Com a falta de recursos, o IGHB enfrenta a possibilidade de perder parte de seu valioso patrimônio, que inclui pinturas e mobiliário que se encontram em condições delicadas. Além disso, os cursos oferecidos pelo instituto, que promovem a difusão do conhecimento histórico, foram reduzidos de quatro para apenas dois por ano.>
Este descaso com uma instituição de tamanha importância revela um desprezo do governo estadual pela preservação da memória baiana. O IGHB, inaugurado há 130 anos, é uma referência para pesquisadores e historiadores. Como bem pontuado por historiadores modernos, o passado é uma “estrutura em progresso”, suscetível a novas interpretações. O acervo do IGHB é uma fonte viva de conhecimento, não apenas uma coleção de relíquias. Negligenciar sua manutenção é uma afronta ao futuro da história baiana.>
A cultura e a história de um povo são seus alicerces. Ao não apoiar o IGHB, o governo estadual comete um erro gravíssimo e compromete a preservação de nossa herança cultural. Este atentado contra a memória da Bahia não pode ser aceito de forma silenciosa. É sine qua non que o apoio financeiro a essa instituição seja restabelecido, para que continue desempenhando seu papel de preservar e divulgar a história da Bahia e do Brasil.>
Afinal, se perdermos nossa história, o que restará de nossa identidade?>