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Crise da segurança e o retrocesso institucional

A junção física entre quem mata e quem deveria investigar pode selar a impunidade

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  • Editorial

Publicado em 25 de julho de 2025 às 05:00

A Bahia ocupa, mais uma vez, o centro de um dos rankings mais vergonhosos do país: o da violência. O estado voltou a liderar, em números absolutos, o total de homicídios no país, com 6.036 mortes violentas intencionais em 2024, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025. Também concentrou nove das 20 cidades mais violentas do Brasil: Jequié, Feira de Santana, Juazeiro, Simões Filho, Camaçari, Porto Seguro, Santo Antônio de Jesus, Ilhéus e Salvador.

A capital baiana figurou entre os destaques negativos da violência no estado. Salvador ultrapassou o Rio de Janeiro e passou a ser a capital com a maior taxa de mortes violentas do Brasil. De acordo com o levantamento divulgado nesta quinta-feira (24), ao longo de 2024, a cidade registrou uma taxa de 52 mortes violentas por 100 mil habitantes - mais que o dobro da verificada no Rio, que ficou em 20,4.

Pior do que a permanência nesse cenário é a ausência de ações eficazes que demonstrem compromisso real com a vida da população. O que se vê, ano após ano, é um governo que tenta minimizar os dados ou justificar o injustificável, enquanto a criminalidade segue ceifando vidas e espalhando medo pelas ruas das cidades grandes, médias e até pequenas da Bahia.

Em vez de anunciar medidas eficazes de combate à violência e fortalecimento das investigações, o governo Jerônimo Rodrigues (PT) editou, na última semana, uma portaria que pode comprometer ainda mais a já frágil estrutura de elucidação de crimes no estado. A criação do Serviço Integrado de Atendimento a Locais de Crime (SIALC), que unifica fisicamente a atuação de peritos criminais e delegados da Polícia Civil, representa um grave retrocesso institucional. Especialistas em segurança pública, peritos e entidades da sociedade civil já alertaram: essa integração coloca em risco a imparcialidade das investigações - especialmente em casos de letalidade policial.

E esse não é um detalhe menor. A Bahia permanece sendo o estado com o maior número de mortes por intervenção policial em números absolutos. Em 2024, foram 1.556 mortes registradas - uma média assustadora de quatro pessoas mortas por dia pela polícia. A junção física entre quem mata e quem deveria investigar pode selar a impunidade. Como confiar em investigações que acontecem sob o mesmo teto das corporações envolvidas?

Não é por acaso que a Bahia ostenta outro índice vergonhoso: é o estado com a menor taxa de elucidação de homicídios do país. Em 2022, apenas 15% dos assassinatos foram solucionados. Isso significa que, em 85% dos casos, os autores seguem livres, o que fortalece o ciclo da impunidade e da insegurança.

Diante de tudo isso, o governo do estado insiste em defender a medida, com a alegação de que haverá maior integração e celeridade nas investigações. Mas de que adianta rapidez sem credibilidade?

O que a Bahia precisa não é de discursos embalados em redes sociais, mas de uma reforma estrutural na segurança pública, com mais investimento em inteligência, valorização e autonomia das instituições técnicas e maior controle externo das ações policiais. Manter-se no topo da violência não pode mais ser naturalizado. Muito menos tolerado.