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Nilson Marinho
Publicado em 17 de fevereiro de 2025 às 05:00
Uma das principais queixas das empresas brasileiras é a falta de profissionais qualificados no mercado. No entanto, essa reclamação não é exclusiva do Brasil. A escassez de talentos no país atinge 81%, um índice superior à média mundial de 74%. Os dados são de um relatório divulgado nesta quinta-feira (23) pelo ManpowerGroup, líder global em soluções para a força de trabalho. >
No ranking global, o Brasil está em 7º lugar, tendo países como Alemanha (86%), Israel (85%) e Portugal (84%) à sua frente. Esses, por exemplo, estão no topo do ranking. Por aqui, entre os setores mais afetados estão Transporte, Logística & Automotivo (91%) e Finanças & Imobiliário (86%).>
A pesquisa não aponta as razões específicas que levam essas áreas à escassez de talentos, mas, de acordo com Wilma Dal Col, diretora de RH no ManpowerGroup Brasil, o que pôde ser observado é que, no setor de Transporte, Logística & Automotivo, por exemplo, o crescimento do e-commerce contribui para uma mudança significativa nos hábitos dos consumidores.>
“Associado à inovação tecnológica, com a automação, o uso de tecnologias avançadas e a introdução de veículos autônomos, há uma demanda crescente por profissionais com habilidades especializadas em tecnologia. Além disso, a crescente complexidade das cadeias de suprimentos exige profissionais que possam gerenciar e realizar as operações de maneira eficiente, lidando com problemas logísticos em um cenário de grande demanda e pressão, em função do crescimento do e-commerce, como mencionado acima”, comenta em entrevista ao Correio.>
A diretora de RH no ManpowerGroup Brasil pontua também que, no setor de Finanças & Imobiliário, a hipótese para a escassez é a digitalização dos serviços financeiros e o avanço de tecnologias como blockchain e fintechs, que aumentam a demanda por profissionais que compreendam essas inovações tecnológicas sob uma perspectiva de resolução de problemas, adaptabilidade e pensamento crítico, numa abordagem tática e estratégica.>
“Vale ressaltar que a dificuldade em preencher posições nessas áreas se deve não apenas a demandas técnicas, mas também à necessidade de habilidades de adaptação e resiliência em um ambiente que muda rapidamente. As empresas nesses setores precisam investir em treinamento contínuo e requalificação para atrair e reter os talentos adequados”, completa Wilma.>
Aparecem na lista de áreas com carência de profissionais no Brasil Tecnologia da Informação (84%), Indústria & Materiais (80%), Bens de Consumo & Serviços (78%), Saúde & Ciências da Vida (77%) e Serviços de Comunicação (69%).>
“A rápida evolução tecnológica e a digitalização estão redefinindo o mercado de trabalho. As habilidades técnicas, especialmente em áreas como inteligência artificial, big data e cibersegurança, estão em alta demanda. No entanto, a disponibilidade de profissionais nessas áreas não tem acompanhado o ritmo necessário, criando um descompasso entre as habilidades disponíveis e as exigidas pelo mercado”, lembra a diretora de RH no ManpowerGroup Brasil.>
A pesquisa sugere ainda como os empregadores brasileiros vão enfrentar a escassez de talentos neste ano. A maioria (40%) deve apostar na qualificação de pessoas que já fazem parte de seus quadros de colaboradores, aprimorando e atualizando suas habilidades, ou ensinando novas para que possam atuar em uma nova função ou área. Outra parte (26%) pretende investir em novas fontes de profissionais qualificados para futuras contratações. Há ainda aqueles (24%) que veem como solução oferecer maior flexibilidade de localização (híbrido, remoto) aos seus funcionários.>
“As empresas precisam adaptar suas estratégias de recrutamento e retenção. Investir em programas de treinamento interno, usar upskilling e reskilling visando ampliar as habilidades dos empregados atuais e criar ambientes de trabalho mais inclusivos e atrativos são passos críticos para enfrentar essa escassez”, finaliza.>
Ricardo Suzart, especialista em mercado de trabalho e professor de gestão de pessoas, aponta que a falta de profissionais qualificados para suprir as necessidades dos setores pode estar ligada a uma lacuna existente entre a formação técnica e acadêmica e as demandas atuais do mercado de trabalho.>
“Muitas instituições, digo inclusive que 90% delas, não têm acompanhado a velocidade das transformações tecnológicas e das novas exigências do mercado. Isso resulta em um grande déficit de profissionais preparados para atuar em setores considerados estratégicos”, comentou.>
Ainda na avaliação do especialista, o mercado tem exigido dos profissionais maior capacidade analítica, habilidades digitais e conhecimento em outras áreas diferentes de suas formações primárias. “É necessário que a educação seja ampliada e modernizada, mas isso também deve partir das empresas, que precisam construir uma cultura organizacional para saber lidar com a escassez. Muitas companhias ainda insistem em modelos rígidos de contratação, limitando suas opções”, finaliza Ricardo.>