Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Publicado em 5 de julho de 2025 às 05:00
Odete Roitman foi escolhida como a nova musa sensata nas redes sociais brasileiras. >
A expressão "musa sensata" em relação à personagem Odete Roitman na novela "Vale Tudo", convenhamos, é um tanto paradoxal, pois, a personagem Odete é conhecida por sua personalidade manipuladora e vilanesca.>
Rapaz, vou te contar... Diante das últimas maldades do Congresso brasileiro, Odete Roitman parece até boazinha. Senão vejamos, o Senado Federal deu sinal verde a uma proposta que eleva de 513 para 531 o número de deputados federais, em uma decisão que pode representar um custo de, pelo menos, de R$ 95 milhões por ano aos cofres públicos. Isso se torna uma maldade ainda maior pois para o Fundo Monetário Internacional (FMI), que considera os títulos públicos na carteira do BC, o endividamento brasileiro atingiu em abril estratosféricos 88,4% do PIB. Quem paga a conta?>
Mas deixemos de lado as maldades dos nossos ilustres congressistas.>
Na versão atual Odete Roitman, para grande parte dos telespectadores, ao invés de abominável virou uma personagem simpática e capaz de tolerar que o seu filho se case com uma mulher negra. Coisa inadmissível na Odete original. Ademais, quem, me digam quem, eventualmente não se incomodaria e daria “um piti” em ver a família toda na mamata, sem ninguém com vontade de pegar no batente e ir ao trabalho? >
Ademais, a chatice de uma mocinha da novela contrasta com a Odete de 2025. Ela é realmente uma verdadeira mala sem alça. A Solange Duprat virou na Web a "Solange DuLacre" por conta de ficar levantando pautas ideológicas na trama, "ninguém merece uma nora dessas", diz uma postagem na Web. Solange, interpretada por Alice Wegmann no remake, quer representar a mulher moderna e independente, mas se tornou alvo de críticas e apelidos como "esquerdo-chata" devido ao insuportável bordão "sou resistência" e um palavreado chatíssimo típico da esquerda moderninha como "o patriarcado adoece a todos", "o machismo mata" e "feminismo é sobre igualdade, não sobre privilégios" sugerindo que o engajamento político na novela pode estar sendo forçado, em vez de ser uma consequência natural da narrativa. >
Na verdade, a nova versão da novela, sucesso absoluto em 1988, acabou virando motivo de piada nas redes sociais. A chamada "Odete da Shopee" ganhou destaque e caiu no gosto do público justamente por expressar, de forma caricata, a lógica de uma população cansada e indignada com os rumos do país.>
Com seu jeito debochado e direto, a personagem parece muito mais conectada ao sentimento geral do que muitos representantes oficiais. Não à toa, acho que ela seria a escolha ideal para presidir a COP 30, no lugar da atual CEO Ana Toni, que também acumula o cargo de Secretária Nacional de Mudança do Clima no Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil.>
Enquanto Ana Toni enfrenta críticas por sua postura e gestão, a "Odete da Shopee" virou símbolo de uma liderança que, mesmo fictícia, parece falar mais diretamente ao público. Essa comparação, embora carregada de ironia, expõe uma insatisfação profunda com a condução das políticas climáticas e reforça o sentimento de descrédito que paira sobre grandes eventos como a COP.>
Ana Toni abriu uma Caixa de Pandora recheada de maldades sem fim. A realização da COP 30 em Belém, no Brasil, que deveria ser um marco para a diplomacia climática e para a imagem do país, está se transformando em um espetáculo de preços abusivos e desorganização. A começar pela hotelaria: diárias que normalmente custavam entre >
R$ 300 e R$ 500 foram elevadas para patamares exorbitantes, chegando a R$ 15 mil em alguns casos. Esse aumento desproporcional não só afasta delegações menores e representantes da sociedade civil, mas também mancha a reputação de um evento que deveria ser inclusivo e acessível, promovendo a participação global no debate sobre a crise climática.>
Além da explosão nos preços das acomodações, outros serviços básicos também entraram na lógica da "indústria do superfaturamento". Restaurantes, transportes e até espaços de coworking multiplicaram seus valores, criando um ambiente hostil para jornalistas, pesquisadores e organizações não governamentais. Em vez de estimular um ambiente de cooperação e troca de experiências, a COP 30 tem se mostrado um verdadeiro campo minado de dificuldades práticas.>
A má organização fica ainda mais evidente quando se observa a ausência de um plano de mobilidade eficiente e de sinalização mínima para orientar o público internacional. A cidade, que deveria estar preparada para receber dezenas de milhares de visitantes, enfrenta problemas básicos como trânsito caótico, falta de transporte público de qualidade e insegurança em áreas centrais. Enquanto isso, autoridades locais parecem mais preocupadas em capitalizar economicamente o evento do que em garantir sua missão original: promover soluções concretas e urgentes para o aquecimento global. Ao invés de servir de exemplo para o mundo, a COP 30 corre o risco de entrar para a história como o símbolo de um grande fracasso logístico e ético.>
As discussões sobre aquecimento global durante a era Trump também revelaram um lado obscuro do debate, antes ofuscado pelo centralismo da grande mídia, que tratava o aquecimento global quase como um holocausto climático incontestável.>
Artigos recentes, como o do meteorologista Luiz Carlos Molion criticam duramente a base científica que sustenta a tese do aquecimento global antropogênico, classificando-a como “frágil” e baseada em modelos climáticos “rudimentares”. >
Para Molion, os cenários elaborados pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) falham em prever até mesmo eventos regionais importantes, como as secas severas no Nordeste brasileiro. Ele argumenta que esses modelos ignoram fatores decisivos, como a cobertura de nuvens, que teria caído de 70% em 1987 para 64% em 1990, alterando significativamente a entrada de radiação solar. Para o pesquisador, essa redução explica melhor o aquecimento observado do que o aumento nas emissões de CO2.>
Nessa mesma linha, o físico John F. Clauser, vencedor do Prêmio Nobel de Física em 2022, causou grande repercussão ao negar publicamente a existência da crise climática durante uma conferência promovida pela Deposit of Faith Coalition, nos Estados Unidos. >
Em sua fala, Clauser acusou organizações como as Nações Unidas e o Fórum Econômico Mundial de integrarem uma “cabala global” que, segundo ele, estaria manipulando dados e narrativas para promover uma falsa emergência climática. A postura do cientista contrasta de forma contundente com o consenso internacional que aponta o aquecimento global como um dos maiores desafios do século.>
Durante sua apresentação, Clauser contestou a ideia de que as emissões de dióxido de carbono são o principal motor do aquecimento global. Em vez disso, assim como Molion, ele defendeu que a temperatura da Terra seria majoritariamente determinada pela cobertura de nuvens, que exerceriam um efeito líquido de resfriamento sobre o planeta. >
As declarações de John Clauser não passaram despercebidas pela comunidade científica. O climatologista Michael Mann classificou as falas como “puro lixo” e “pseudociência”. Mann, conhecido mundialmente por seu estudo de 1998 — o famoso “gráfico do taco de hóquei” — que apontou um aumento abrupto das temperaturas globais no século XX, associando-o às atividades humanas, nunca chegou a receber um Prêmio Nobel. Nos bastidores, circula o comentário de que Mann seria patrocinado por ONGs interessadas em alimentar o alarme climático.>
Clauser, que ganhou o Nobel ampliando as teses de Einstein e traçaram o caminho para tecnologias como os computadores quânticos, capazes de resolver problemas complexos além das capacidades dos computadores clássicos, agora se vê no centro de um debate acalorado que extrapola os limites da física e invade o campo das políticas públicas globais.>
Parece que Clauser e Molion têm suas razões. De forma surpreendente, no período 2021–2023 a Antártida teve um ganho médio de 108 bilhões de toneladas de gelo por ano, impulsionado por um aumento nas precipitações de neve, revertendo temporariamente as perdas médias de 142 bilhões por ano na década anterior. Freud explica! >
No fim das contas, fica difícil saber quem anda mais fora da realidade: os roteiristas da nova versão de Vale Tudo ou os organizadores da COP 30. Enquanto a "Odete da Shopee" rouba a cena nas redes sociais com sua franqueza venenosa e, vejam só, agora até tolerante e progressista, os líderes climáticos brasileiros parecem disputar quem consegue ser mais incoerente e afastado do povo. Talvez seja hora de entregar mesmo o comando da conferência para Odete Roitman: ao menos, ela não disfarçaria seus interesses, não empurraria diárias de >
R$ 15 mil e muito menos recitaria bordões vazios sobre "resistência".>
Afinal, diante de cientistas laureados virando vilões, climatologistas ganhando fama de rockstar sem Nobel, e uma COP transformada em atração de luxo amazônico, só mesmo Odete para dar conta de segurar o enredo. E, convenhamos, num país em que a ficção anda mais convincente que a realidade, seria um alívio ter uma vilã de novela no papel principal, ao invés de mocinhos de discurso fácil e conta bancária gorda.>
Jorge Cajazeira é Ph.D. pela Fundação Getúlio Vargas (EAESP) e consultor internacional de empresas>