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Publicado em 13 de agosto de 2025 às 05:00
Vem cá, só eu acho que o problema do ESG começa pelo nome? A sociedade brasileira, com sua velha síndrome de vira-lata, tem uma longa história de abraçar os anglicismos. O que era exceção virou regra, e hoje é quase uma obrigação falar o “dialeto bossalez”.
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Em muitas rodas de negócios, especialmente nas grandes capitais, o uso exagerado de termos em inglês virou quase um código de acesso. Se você não acompanha o jargão da vez, logo é visto como um “outsider”. E sim, isso fechar portas. Como baiano, vivi na pele o preconceito geográfico. Existe uma cobrança constante para provar que você está “à altura” deles. Agora pense: num país onde apenas 1% da população fala inglês fluentemente, e onde só 5% têm algum conhecimento do idioma, usar uma sigla como ESG (Environmental, Social and Governance) sem qualquer tradução já exclui, de partida, grande parte da sociedade.>
O que há de “social” nisso? Se as pessoas não sabem o que é, como vão apoiar? Como podem aderir? Estive no ProXXIma, agora em junho, um dos principais eventos de marketing, inovação e comunicação digital do Brasil e saí ainda mais incomodado com a compulsão por traduzir do inglês para o português palavras que o nosso idioma já resolve lindamente. E não estou falando de “marketing”, “e-mail” ou “feedback” — termos já absorvidos pela nossa língua pátria.>
O estranho é ver camada virar “layer”, propaganda virar “advertising” e ouvir a palavra digital, que é escrita da mesma forma, ser pronunciada como “dígital”, com aquele sotaque de gringo cansado. Anotei algumas frases reais que ouvi no evento: Se você não fizer, vai ficar no outside, A gente já comprou três vezes and counting, Vamos fazer tudo mais equity, É difícil fazer o management disso. E não me venham com a justificativa de que “se fala assim porque lidamos com multinacional”. O uso já ultrapassou os termos técnicos a um bom tempo. Temos um dos mais belos e ricos idiomas do mundo. Somos a 8ª língua mais falada do planeta. Temos uma economia poderosa. Não precisamos abrir mão da nossa identidade para parecermos “globais”.>
Legal seria seguir o exemplo da sigla DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão) — termo em português, alto e claro, e fazer o mesmo com ESG. Devemos falar é de ASG: Ambiental, Social e Governança. Se o objetivo é incluir, a linguagem também precisa ser acessível. Se a gente quiser aplicar o ESG e atender bem o Social, tem que falar no bom e velho português. Se o objetivo é inclusão, não precisamos de ESG e sim de ASG, que é pra todo brasileiro ler.>