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Governo da Bahia descarta cenários da "era de ouro" do teatro baiano

Profissionais me procuraram pedindo sigilo “porque vivemos amedrontados” e “temos medo de retaliações”

  • Foto do(a) author(a) Flavia Azevedo
  • Flavia Azevedo

Publicado em 29 de janeiro de 2025 às 13:56

Armazém Cenográfico
O Armazém Cenográfico foi inaugurado em 2003 Crédito: Arquivo Jornal Correio

Se quiser comentar este texto, manda um zap: 71 9 93861490

Se você é muito jovem – ou conhece a Bahia há menos de 20 anos - talvez não saiba, mas houve um momento da história em que nossos palcos eram muito prósperos. Não apenas de shows vindos de fora, não só de música, mas também de teatro.

Nessa época, eram habituais os programas “teatro e depois barzinho”, “teatro e jantar depois”, “teatro seguido de festa”. Assim, como lazer normal de casais, famílias e amigos. Era divertido pra todo mundo, tinha espetáculo pra todo gosto, bolso e idade.

Atores, produtores, cenógrafos, iluminadores, músicos, roteiristas e outros profissionais do setor podiam viver exclusivamente de fazer teatro. Além de um grande público para as nossas próprias produções, ainda tínhamos como acolher espetáculos de fora que sempre circulavam na Bahia, também com casas lotadas.

Os espaços eram muitos e funcionavam a todo vapor em uma cena de alto nível profissional com dezenas de produções de sucesso que desisti de citar. São muitas e não quis correr o risco de esquecer alguma. Até aqui, eu testemunhei. Tudo isso eu vi, assim como assisti ao progressivo declínio desse ambiente.

Pois heroicos profissionais do teatro baiano me procuraram, nesta semana. Pedindo sigilo “porque vivemos amedrontados” e “temos medo de retaliações”, eles me contaram a história que escrevo a seguir.

O ano era 2003 quando, diante dessa cena efervescente, foi inaugurado o Armazém Cenográfico, no antigo Centro de Convenções. O espaço – que abrigava cerca de 300 cenários de espetáculos fora de cartaz – funcionava como um depósito, mas não apenas isso.

Peças cenográficas e adereços (tipo sofás, janelas, paredes, escadas, baús, figurinos, ou seja, objetos que eram descartados depois do uso por falta de espaço para guardar) ficavam bem armazenados e eram emprestados para novas montagens. O Armazém, portanto, era tipo um acervo coletivo e gratuito para os profissionais do teatro.

Quando essas produções finalizavam suas temporadas, as peças e adereços voltavam para o Armazém que também tinha um trabalho de catalogação dos objetos e algumas oficinas para as comunidades da vizinhança. Assim, o espaço funcionou até 2008, ajudando a viabilizar grandes produções da época, de forma ecologicamente e financeiramente sustentável.

As pessoas que me procuraram contam que, depois de 2008, por falta de renovação de contrato com o Centro de Convenções, o Armazém Cenográfico foi transferido para um endereço na Federação. “Sem luz e sem água”, de acordo com um dos relatos. Anos depois, o acervo foi novamente deslocado. Dessa vez, para o ICEIA (Instituto Central de Educação Isaías Alves), no Barbalho.

Daí que há um tempo o ICEIA está tentando tirar os cenários de lá porque, claro, não é o lugar adequado. Com a situação insustentável no Instituto, todo esse material agora foi transferido para o TCA – que é oficialmente responsável pela gestão da ideia chamada Armazém Cenográfico – e virou problema.

É que o teatro afirma não ter espaço para o armazenamento desses objetos. O que, em tese, poderia ser construído exatamente neste momento em que o TCA está fechado, em plena reforma, num projeto milionário que promete entregar o teatro mais moderno da América Latina. Mas parece que a modernidade não contempla o Armazém.

Isso porque, ainda de acordo com os profissionais que me procuraram, o TCA anda enviando comunicado para pessoas irem retirar os cenários do teatro. Caso os objetos não sejam resgatados até essa sexta (31), eles passarão a ser do TCA que poderá reutilizar ou jogar tudo no lixo, se tiver vontade. Em resumo, depois de 22 anos, o Armazém Cenográfico deixou de existir.

“Era pro governo estar inaugurando um pavilhão climatizado e com estrutura, ampliando e sofisticando o projeto”, diz uma das fontes. “Você não faz ideia do quanto era importante pra gente ter onde abrigar material de nossas peças e poder pegar emprestado e reformular coisas”, me escreveu uma outra. “É uma amadorização violenta do nosso ofício”, lamentou um terceiro profissional. Pois é.

Por fim, vale também perguntar sobre outra coisa que me lembrei: por onde andam os editais com verba estadual para o setor? O último foi em 2019, salvo engano. Esta, apenas mais uma ausência no ambiente cheio de nostalgia, escassez e descontentamento no qual a cena cultural baiana, há algum tempo, se transformou.