Acesse sua conta
Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Recuperar senha
Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Dados não encontrados!
Você ainda não é nosso assinante!
Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *
ASSINE

Vamos contar direito a história da mãe que capou e matou o estuprador da filha?

Pra começar, uma coisa é certa: em muitos aspectos, fica sempre mais seguro quem respeita a força do vínculo que mães funcionais têm com as próprias crias

  • Foto do(a) author(a) Flavia Azevedo
  • Flavia Azevedo

Publicado em 11 de abril de 2025 às 18:06

Mãe matou e
Mãe matou e Crédito: Shutterstock

(Neste texto, considero o que foi publicado na imprensa, sobre o caso, até as 14h do dia 11/04/2025. Evidentemente, com as investigações, outros detalhes podem ser descobertos e acrescentados às primeiras notícias, o que pode mudar todo o contexto.)

Na cidade de Belo Horizonte (MG), precisamente no Conjunto Taquaril, uma mulher solteira de 42 anos, mãe de uma pré-adolescente de 11, vivia a vida dela normalmente. Entre outras coisas que significam “viver a vida normalmente”, exercia o próprio direito de ter uma vida sexual. Para isso, por esses tempos, se relacionava esporadicamente com um homem adulto de 47 anos. Tudo normal até aí. Só que...

Um dia, a mãe descobriu que o homem de 47 anos, com o qual se relacionava esporadicamente, enviava mensagens de teor sexual para a menina de 11 anos. Mais do que isso, a mãe da menina viu quando o homem chegou à sua casa, drogado, e tocou o corpo da garota que dormia. Diante desses fatos, a mulher se deu conta de que – ao exercer seu direito de ter uma vida sexual – acabou se envolvendo com um criminoso.

O que ele havia feito era gravíssimo. Naquele momento, a mulher tomou consciência de que estava diante de um estuprador. Ela havia acabado de presenciar crimes contra a sua própria filha. Na cabeça dessa mãe, a hierarquia de afetos é bem organizada: antes de qualquer outra pessoa, está a filha menor de idade que precisa ser protegida. Então, ela não quis negociar nem “perdoar” o criminoso. Ela sabia que precisava agir rápido para defender sua cria. Mas, de que maneira?

(Justapondo as nossas leis ao relato que consta no boletim de ocorrência, o nome do crime que o homem cometeu é “estupro de vulnerável”, então ele era um estuprador.)

(Previsto no art. 217-A do Código Penal, o crime de estupro de vulnerável se configura, em três hipóteses. Entre elas, “quando há conjunção carnal – ou seja, sexo - OU PRÁTICA DE OUTRO ATO LIBIDINOSO com menores de 14 anos”.)

Para defender a menina, a mulher tinha algumas possibilidades: confrontar o criminoso, chamar a polícia, juntar provas e fazer uma denúncia, fugir com a filha para outra cidade. Diante de um crime, cada pessoa reage de um jeito, de acordo com sua própria estrutura mental, conhecimento das leis, experiência pessoal, crença na justiça e estado de espírito. Em cada caminho, há consequências específicas. Não sei por qual conjunção de fatores, mas essa mãe decidiu que cometer outro crime seria seu caminho. Ou seja, ela optou por matar o estuprador da filha. De forma cruel e requintadíssima, diga-se.

A mulher, então, não disse nada ao criminoso. Fez de conta que nada havia acontecido. Porém, traçou um plano. No dia seguinte ao crime, chamou o estuprador pra tomar uma cervejinha. Daí, botou um tranquilizante dentro da bebida e, quando ele dormiu, matou, capou e tocou fogo no corpo do indivíduo. Resultado é que o homem está morto, ela está presa, a menina está na casa de uma tia e um adolescente que ajudou a ocultar o cadáver está desaparecido. A mãe assumiu o crime e detalhou a motivação para a polícia.

Sim, são no mínimo quatro pessoas com as vidas fortemente impactadas ou destruídas. Uma tragédia, sabemos. Mas me incomoda muitíssimo que ao observar essa tragédia, para muitas pessoas, o início de tudo pareça ser o crime chocante que a mulher cometeu. Isso porque, se o relato dela se confirmar, tão chocante quanto o assassinato – com requintes de crueldade – é o estupro da menina. Portanto, o crime cometido por essa mãe, contra o estuprador, pra mim, é apenas legítima defesa da filha.

“Mas aí tem a questão da proporcionalidade, ela teria que reagir de acordo com a gravidade da ameaça e não cometendo um assassinato sangrento”, você pode estar pensando. Respondo com perguntas: que reação de uma mãe seria proporcional ao estupro de uma filha? Quantos crimes de estupro você já viu punidos, pela justiça, com pena proporcional ao estrago ETERNO que causam nas vidas das vítimas? Quantas mulheres precisam denunciar para que um estuprador seja punido? Talvez a mãe tenha considerado tudo isso. Ou nem conseguiu pensar, tomada pelo choque e pelo desespero. Aposto nesta última hipótese, inclusive. De todo modo, uma coisa é certa: em muitos aspectos, fica sempre mais seguro quem respeita a força do vínculo que mães funcionais têm com as próprias crias