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Da Redação
Publicado em 23 de setembro de 2012 às 07:15
“O Homem tem sonhos. Em todas as colheitas fazemos algo de novo e, por vezes, realizamos alguns dos nossos sonhos”. São duas frases de Luís Pato. O homem é uma lenda em Portugal. É considerado um revolucionário que domou a casta Baga e, com ela, faz o Vinho Quinta da Ribeirinha Pé Franco, considerado por Robert Parker o melhor vinho de Portugal. Não é pouco. Luís Pato é,antes de tudo, um gentleman. Conheci seu Luís num almoço da Mistral aqui no Restaurante Amado. E, quando soube que passaríamos por Portugal em julho, fez logo o convite: vá à Bairrada comer um leitão comigo. Convite aceito.Saímos numa segunda-feira cedinho de Lisboa em direção à vinícola em Amoreirada Gândara. Eu e Patrícia esperávamos encontrar um grupo de apaixonados por vinho guiados por um enólogo e, na melhor das hipóteses, ter dois dedos de prosa e almoçar com seu Luís. Chegamos pouco depois das 10h da manhã e fomos recebidos por Luís Pato em pessoa. “Deveriam ter chegado mais cedo”, disse ele. Teriam mais tempo para beber dos meus vinhos”. E não havia mais nenhum convidado. Tivemos seu Luís generosamente dedicado a dois únicos convidados por um dia inteiro. Conhecemos a adega pessoal dele,com capacidade para 15 mil garrafas. Lá estão as primeiras garrafas da Quinta do Ribeirinho, a história em primeira pessoa da vinícola que Luís Pato herdou do pai em 1970. A aula sobre as castas produzidas na região e sobre os vinhos criados na vinícola continuou da melhor maneira possível: na prática. Provamos com reverência direto dos barris de carvalho franceses da Quintado Ribeirinho 2010 e 2011. Quanta diferença de um para outro. Quanta diferença quando forem para as garrafas, esperando o tempo de serem provados.A produção anual do Quinta do Ribeirinho não passa de 2 mil garrafas. Os pés de videira da casta Baga não têm enxerto. São considerados pés francos. A enxertia foi usada para evitar afiloxera, que devastou parreirais na Europa toda. Luís Pato queria produzir um vinho dessas parreiras sem enxertia. São 2,5 hectares apenas. A produtividade é baixa. Seis parreiras para produzir uma garrafa. Estamos falando de um vinho excepcional. Provamos da barrica dois deles. Em estado de graça, provamos o Luís Pato, o Luís Pato Vinhas Velhas e o Vinha Pan. Sobre cada vinho,uma aula do método de produção e de defesa dos vinhos portugueses. A aula continuou na hora do almoço. Pato nos levou para Fogueira, um povoado a 10 quilômetros da vinícola, onde fomos comer Leitão à Bairrada,no Restaurante Mugasa. Todos os adjetivos que conheço são insuficientes para descrever a experiência de comer um leitão fantástico harmonizado, claro, com um espumante e um vinho branco da adega Luís Pato. O leitão do Mugasa já ganhou um concurso regional. Não sosseguei enquanto não descobri os temperos com que ele é assado. Aprendi que Rosa, a esposa de Luís, usa esses temperos para assar coelhos!Terminado o almoço, pensávamos que era hora de voltar para Lisboa. Que nada! Fomos provar mais vinhos! Brancos, o novíssimo e delicioso Informal,que tem conquistado fãs no mundo inteiro, mais tintos e os vinhos doces. E mais histórias. O ex-professor de Química em escolas públicas que virou enólogo ou fazedor de vinhos, como ele se identifica, é divertido, contestador, amante de boa gastronomia, de bons vinhos e de boa conversa. Tivemos o privilégio de usufruir da companhia de seu Luís por quase sete horas. Que passaram voando. Ainda passamos na loja, compramos os vinhos que ele indicou e, pelo sim, pelo não, pedi a assinatura dele nas garrafas.Era hora de partir. Já estávamos no carro, saindo da vinícola, quando escuto ele chamar meu nome. Com um enorme sorriso no rosto, me entregou uma caixa de madeira. “Só abra quando chegar ao hotel", recomendou. "É para agradecer a visita”.Fiz a viagem de volta a Lisboa louco para abrir a caixa. E lá estava uma garrafa de Quinta do Ribeirinho Pé Franco 2009. Assinada. Luís Pato é um gentleman. E quem tem que agradecer somos nós. Não sei quando vou abrir essa garrafa. Mas o primeiro brinde, com certeza, vai ser à generosidade de um grande fazedor de vinho. Obrigado, seu Luís.>