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Da Redação
Publicado em 26 de novembro de 2018 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
O cantor e compositor baiano Baco Exu do Blues (Diogo Alvaro Ferreira Moncorvo), 22 anos, causou impacto com seu álbum de estreia, Esú, um dos melhores discos brasileiros de 2017. O trabalho levou o rapper a se apresentar em festivais importantes e ganhou os prêmios de artista revelação e melhor música (Te Amo, Disgraça, que está na trilha da série Ilha de Ferro, da Globo) no Prêmio Multishow 2018. Na linha de frente do rap nacional, o cantor baiano Baco Exu do Blues, 22 anos, brilha no seu novo e excelente álbum, Bluesman (Foto/Alex Tataki/Divulgação) E o impacto deve aumentar com o ainda melhor e mais bem cuidado (em bases musicais, timbres, melodias, arranjos) segundo álbum, Bluesman (Altafonte), que chega acompanhado de um bom filme de 8 minutos dirigido por Douglas Bernardt e estrelado pelos atores Kelson Succi e Hilton Cobra.>
Com letras muito boas e referências literárias e pop que vão do escritor argentino Jorge Luis Borges (1899-1986) e do pintor holandês Van Gogh (1853-1890) a um momento de surto da cantora Britney Spears, em 2007, passando por Jay Z, Beyoncé e Kanye West, as canções falam de autoestima black, revolta, amor e tristeza. O álbum tem participação especial do músico paulista Tim Bernardes, da banda O Terno.>
A seguir, entrevista feita por telefone com Baco, que mora há quatro meses em São Paulo. "Não tive tempo de sentir São Paulo ainda, porque vim para trabalhar e desenvolver uns projetos. Tenho trabalhado o tempo todo", diz.>
A partir do título e da primeira canção, que abre com a voz e a guitarra de Muddy Waters (1915-1993), Bluesman é um trabalho de rap com espírito de blues? Eu queria fazer um disco de blues, com o sentimento de blues, mas sem tocar blues. Quis me livrar de gêneros musicais. Acredito que gênero musical é o que você sente quando ouve ele, não o que você toca, saca?>
Você prefere ser chamado de músico, acima de tudo, do que de rapper? Sim. Você viu o documentário de Quincy Jones (Netflix)? Ele diz que quando você se deixa enquadrar num gênero musical já significa que você não vai ser grande como poderia ser.>
E a provocação da faixa Kanye West da Bahia? Aliás, independentemente do imenso talento, Kanye tornou-se até apoiador de Donald Trump em seu afã de polêmicas. Não seria melhor ser o Kendrick Lamar da Bahia? (risos) Rapaz, o Kanye West é foda. É pelo fato dele ser o melhor produtor dessa parada, um diretor musical sempre à procura de timbres, de ritmos. Ele não se deixa abalar pelos rótulos. E, nesse álbum, eu também procurei conhecer novos timbres. Capa do álbum Bluesman: a foto de João Wainer mostra um homem negro tocando no pátio do trágico Carandiru, presídio paulista desativado em 2002 (Divulgação) Assim como no disco anterior, há referências à depressão em Bluesman. Falar sobre isso funciona como terapia, também? E também pode ajudar outras pessoas que têm a doença. Aprendi a lidar melhor com ela a partir do primeiro álbum. É uma forma de usar a doença a meu favor.>
Jay Z e Kanye West são exemplos poderosos do rap americano no mainstream. Você acha que, nesse caso, quando o rap torna-se o gênero mais influente do mercado, ele ainda representa a periferia negra? O rap de certa forma sempre vai abraçar minorias. E ele tem duas formas de ser representativo: pela música, incluindo o discurso, e pela presença bem-sucedida do próprio artista no poder, que vira uma referência, serve de exemplo. >
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Assista o filme que percorre três faixas do álbum, criado em parceria com a Stink Films e dirigido por Douglas Bernardt>
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BLUESMAN>
Baco Exu do Blues>
Sou primeiro ritmo a formar pretos ricos>
Primeiro ritmo que tornou pretos livres>
Anel no dedo em cada um dos cinco>
Vento na minha cara eu me sinto vivo>
A partir de agora considero tudo blues>
O samba é blues>
O rock é blues>
O jazz é blues>
O funk é blues>
O soul é blues>
Eu sou Exu do Blues>
Tudo que quando era preto era do demônio>
E depois virou branco foi aceito eu vou chamar de blues>
É isso entenda, Jesus é blues. Falei mermo!>
Eu amo o céu com a cor mais quente>
Tenho a cor do meu povo a cor da minha gente>
Jovem Basquiat, meu mundo é diferente>
Eu sou um dos poucos que não esconde o que sente>
Choro sempre que eu lembro da gente>
Lágrimas são só gotas o corpo é enchente>
Exagerado eu tenho pressa do urgente>
Eu não aceito sua prisão minha loucura me entende>
Babe, nem todo poeta é sensível>
Eu sou o maior inimigo do impossível>
Minha paixão é cativeiro, Eu me cativo>
O mundo é lento ou eu que sou hiperativo?>
Me escuta quem cê acha que é ladrão e puta>
Vai me dizer que isso não te lembra Cristo>
Me escuta quem cê acha que é ladrão e prostituta>
Vai me dizer que isso não te lembra Cristo>
Vai me dizer que isso não te lembra Cristo>
Eles querem um preto com arma pra cima>
Num clipe na favela gritando cocaina>
Querem que nossa pele seja a pele do crime>
Que, Pantera Negra só seja um filme>
Eu sou a porra do Mississipi em chama>
Eles têm medo pra caralho de um próximo Obama>
Racista filadaputa aqui ninguém te ama>
Jerusalém que se foda eu tô à procura de Wakanda.>
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