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Publicado em 7 de julho de 2025 às 05:00
A Bahia é um estado-país, maior que a França. Isso não se deve apenas à sua dimensão territorial, mas também à sua riqueza cultural, social e aos seus recursos naturais. Durante décadas, porém, a industrialização baiana concentrou-se quase exclusivamente na Região Metropolitana de Salvador (RMS), impulsionada pela exploração do petróleo e por uma forte intervenção estatal, que resultou em grandes empreendimentos como a Refinaria de Mataripe, o Centro Industrial de Aratu e o Polo Petroquímico de Camaçari. >
Aos poucos, diferentes regiões do interior passaram a apresentar uma dinâmica industrial própria. No oeste baiano, o agronegócio ganhou força; Feira de Santana consolidou-se como um polo logístico estratégico, ligando o Nordeste ao Sudeste do país; e Vitória da Conquista estruturou um parque industrial diversificado, voltado à produção de bens de consumo final. Outras regiões também passaram a se destacar: Juazeiro, com o agronegócio irrigado e a fruticultura voltada à exportação; o sul da Bahia, com a indústria de celulose; e Caetité e seu entorno, impulsionados pela mineração. Além disso, o recente impulso na geração de energias renováveis, especialmente eólica e solar, complementou essas características positivas.>
O impacto desse movimento é evidente. Segundo estudo do Observatório da Indústria da Fieb, entre 2006 e 2024 o emprego industrial cresceu 37,3% na RMS. No mesmo período, a região Oeste registrou um crescimento de 334,9%; Vitória da Conquista, 193,3%; e Feira de Santana, 125%. Em termos globais, o emprego industrial no interior ultrapassou o da RMS pela primeira vez em 2016, alcançando, em 2024, quase 60% do total no estado. As projeções indicam que, mantida essa tendência, o interior da Bahia concentrará cerca de 70% do emprego industrial até 2030.>
As razões para esse crescimento são múltiplas e podem ser divididas entre fatores locais e externos. Entre os fatores locais, destaca-se o empreendedorismo empresarial, cuja experiência e conhecimento do contexto local transformam oportunidades em investimentos, principalmente na indústria de médio e pequeno porte. Já entre as causas externas, merece destaque a Constituição de 1988, que ampliou a autonomia municipal ao aumentar a cota-parte do ICMS e criar o Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Além disso, programas de redistribuição de renda e políticas de interiorização, como o programa Desenvolve, que oferece incentivos à instalação de indústrias fora da Região Metropolitana de Salvador (RMS), também desempenharam papel relevante nesse processo.>
Ainda falta muito para a completa ocupação do território baiano e o pleno desenvolvimento de seu potencial. No entanto, o processo de interiorização permite sonhar com esse futuro. Mais do que isso, já podemos comemorar que o avanço da indústria no interior cria um círculo virtuoso de crescimento, no qual a própria RMS se beneficia com a ampliação do mercado consumidor, reduzindo a histórica dependência das regiões Sul e Sudeste. A expansão para o interior é uma tendência consolidada e o maior beneficiado será toda a economia da Bahia.>
Carlos Danilo Peres Almeida é Especialista em Desenvolvimento Industrial da Fieb>