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O amor que move o Sol e as outras estrelas

  • Foto do(a) author(a) Kátia Borges
  • Kátia Borges

Publicado em 8 de setembro de 2018 às 05:00

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: .

O último verso da Divina Comédia, quem diria, foi parar no título de umas das crônicas do livro Para Viver Um Grande Amor. Cuidado! Algumas coisas podem arruinar sua vida amorosa para sempre. Ler os títulos errados na adolescência, por exemplo. Sempre que penso na frase de Dante faço link direto com a Via Láctea e o poema de Bilac abre por dentro um hipertexto: pálido de espanto! É bem assim, meu caro.

Lanço aqui um desafio, o mesmo que fiz aos alunos na oficina de poesia: tentem escrever um poema de amor sem usar palavras que remetam a sentimento. Enquanto vocês pensam, lembro as razões que me levaram a este texto, pulando de um site a outro, até cair na história de Elizabeth Gilbert, autora do best-seller Comer, Rezar, Amar. Sim, aquele filme lindo que todo mundo viu no cinema com Javier Bardem e Julia Roberts.

Não quero, no entanto, falar da história que virou filme e ganhou o coração de todo mundo, porque a sua autora se permitiu viver algo ainda mais bonito, algo ainda mais corajoso. Vocês mal começaram a rabiscar o tal poema de amor sem clichês, mas peço que parem um pouco: Como seria dinamitar todas as zonas de conforto por uma relação amorosa que não oferecesse sequer a ilusão de uma velhice juntos?

Dou uma dica: Adélia Prado. Não me refiro à possível resposta a esta última pergunta, mas sobre o desafio do segundo parágrafo. Casamento é o título. Um dos muitos desta poeta mineira que uso como referência. Diz da mulher que ajuda o marido, madrugada alta, a preparar os peixes enquanto o silêncio de quando se viram a primeira vez “atravessa a cozinha como um rio profundo”. Pronto.

O amor sem clichês passa por estar acordado. Sujar as mãos, ao escamar, abrir, retalhar e salgar os peixes. E como são escorregadios, alguns deles. Sobre os que consegue levar para casa, diz o marido: “este foi bem difícil” ou “prateou no ar dando rabanadas”. O poema Casamento não lança mão de palavras que remetam a sentimento, mas, ah, como consegue descrever o amor. Peço que leiam inteiro e que me contem.

Adília Lopes, uma poeta portuguesa de minha predileção, diz que escrever um poema é como apanhar um peixe com as mãos. Não à toa, toda pescaria pede algum silêncio e, claro, ação. Amor e poesia, coisas vivas que saltam de profundidades. Bolem na água, desarrumando entornos, emergem, desenham formas vivas no ar e desaparecem. Antes deles, tudo é apenas superfície, ilusão de paz, azul ou verde