O remorso dos leitores sem culpa

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  • Kátia Borges

Publicado em 29 de agosto de 2021 às 05:40

- Atualizado há um ano

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Frequentemente, leio discursos irados de editores, livreiros e escritores nas redes sociais. Todos vociferam contra a inércia do leitor, esse ingrato. Outro dia, numa reportagem, comentaram sobre o sentimento de culpa dos leitores em relação ao fechamento de algumas livrarias de shopping center. Confesso que sempre considerei essas redes como uma espécie de  fast-food.

Na maioria delas, livro de autor independente não entra nem pela porta dos fundos, um pingado de café custa os olhos da cara, um sanduíche qualquer vale o preço de um tríplex e os vendedores costumam desconhecer qualquer título que não seja best-seller. Admito que desconfio quando escuto sobre quão acolhedor pode ser um lugar como esse, apesar dos seus confortáveis sofás. 

De minha parte, embora sinta pela redução do já reduzido mercado em que circulam os livros, vejo a queda dessas redes sem qualquer nostalgia. Muito menos  remorso. Afinal, deveria o pobre leitor brasileiro, emergindo dos destroços de um país culturalmente e economicamente em ruínas, ser responsabilizado pela derrocada de empresas em rede que parecem pouco se importar com ele? 

Respeito sinceramente quem se sentia feliz ao percorrer as longas estantes organizadas tematicamente, tantas vezes de modo equivocado, à cata de alguma atenção com a literatura contemporânea produzida fora do eixo Rio-São Paulo. Todo amor, no entanto, a quem bebia pingado e pagava metaforicamente em euros, instalado nas confortáveis poltronas, lendo livros de estreantes norte-americanos.

Penso que, para além das dificuldades impostas por um mercado dominado pelos gigantes do marketplace, que compram livros a metro e distribuem a quilômetros,  os leitores têm hoje novos desejos e modos de consumo, preocupam-se com o entorno do comércio. Seja de couve ou de livros. Os criadores e editores caminham a passos largos na abordagem de temas e no acolhimento de autores antes injustamente no escanteio. As vendas diretas têm o charme irresistível de um autógrafo e de um afago.