Miro Palma: Cristiano Ronaldo merece respeito

Foram 12 anos de espera. Cristiano Ronaldo teve uma segunda chance. Depois da dolorosa derrota por 1x0 para a Grécia, na final da Euro de 2004, o camisa 7 mais conhecido do mundo foi premiado pelos deuses da bola com mais uma oportunidade de brilhar pela seleção de Portugal. O roteiro estava escrito, mas a máquina não contava com uma forte entrada de Payet no seu joelho logo no início do jogo contra a França. CR7, chorou, tentou voltar, chorou de novo e deixou o gramado desolado.O desespero do melhor jogador do mundo na atualidade refletiu no sentimento dos torcedores portugueses. E agora? Como seria possível vencer os donos da casa sem o principal astro? Portugal conseguiu. Calou um mundo recheado de críticos, superou os obstáculos cruéis e, merecidamente, deu esse presente a Cristiano Ronaldo, um dos jogadores mais dedicados e apaixonados da história pelo futebol.Sim, Cristiano Ronaldo é humano. Ele teria todos os motivos para não se importar tanto com a seleção nacional, afinal, pelo Real Madrid, seu principal clube da carreira, já havia conquistado tudo. Mesmo assim faltava algo: ver o seu povo sorrir. No dia seguinte à conquista da Euro, o sonho foi realizado. As ruas de Lisboa foram tomadas por milhares de pessoas, que recepcionaram os heróis do primeiro título da seleção com muita festa.A Eurocopa de 2016 ficará para sempre conhecida como a competição de Cristiano Ronaldo. Por mais que ele não tenha brilhado em campo como em outras oportunidades, o craque deu um verdadeiro exemplo de como se deve comportar um líder, seja ele jogador de futebol ou não. A primeira demonstração veio nas quartas de final, momentos antes da decisão por pênaltis contra a Polônia.O companheiro João Moutinho havia ficado marcado por desperdiçar uma cobrança na edição de 2012 do torneio e, devido a isso, preferiu não integrar a lista de cobradores. CR7, sabendo disso, encostou-se ao amigo e deu o recado: “Vem, vem! Vem bater! Tu bate bem, vai! Se perder, que se exploda! Seja forte! Anda, vai”. O resultado? Ambos converteram suas cobranças e classificaram Portugal para a próxima fase da competição.  Já na final, após ser medicado nos vestiários, CR7 voltou ao campo no início da prorrogação e deu um verdadeiro show de liderança. Gesticulou à beira do gramado ao lado do técnico Fernando Santos. “Ele confiou no time e todos conseguiam notar. É bonito ver a entrega dele para a seleção e a forma como amadureceu a liderança”, afirmou o comandante sobre Ronaldo. Éder, autor do gol do título, fez questão de lembrar-se da importância do craque. “Ele me disse que faria o gol do título. Isso só anima qualquer jogador a seguir lutando”.Cristiano Ronaldo é vaidoso, gosta de fazer a sobrancelha, passar gel no cabelo, depilar as pernas e se olhar no telão. As pessoas não precisam gostar disso, no entanto, também não deveriam se incomodar tanto com o jeito de viver e encarar a vida do atacante. Só por causa dos cuidados estéticos “ele não joga isso tudo?”. Por causa dessa vaidade “ele é arrogante?”. Não, senhoras e senhores. Essa injustiça não pode ser cometida.Cristiano Ronaldo chuta com as duas pernas de fora e dentro da área, faz gol de cabeça, falta, pênalti, tem impulsão, força, velocidade, técnica, ousadia, drible, etc. É o maior artilheiro da história do Real Madrid e da seleção de Portugal. Três vezes eleito o melhor jogador do mundo pela Fifa. Além disso tudo, segundo a ONG Athletes Gone Good, ele é o atleta que mais doa dinheiro para instituições de caridade no mundo. Um fã de 10 anos, por exemplo, ganhou de CR7 mais de US$ 83 mil  para realizar uma cirurgia no cérebro. Já um hospital que cuida de pessoas com câncer, em Portugal, foi presenteado com US$ 165 mil. Ele merece ou não ser respeitado? A escolha é sua.

*Miro Palma é subeditor de Esporte e escreve às quartas-feiras